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CURSO SOBRE COMO IDENTIFICAR E TRATAR BULLYING
Bullying é um termo em inglês (bully – “valentão”) utilizado para descrever formas de violência verbais, físicas ou psicológicas, intencionais ou repetitivas praticado por um indivíduo ou um grupo para intimidar o outro individuo incapaz de se defender.
O bullying pode ser dividido em dois tipos: o bullying direto, a forma mais comum entre agressores masculinos; e o bullying indireto, forma mais comum entre as mulheres e crianças, sendo sua característica o isolamento social da vítima obtido por espalhar comentários, recusa em se socializar com a vítima, intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima, criticar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos como etnia e religião. Além desses meios utilizados pelo agressor, outros também são considerados como agressões como insultar a vítima, ataques físicos, danificar pertences e expressões ameaçadoras.
Por ser um problema mundial, vem ganhando grande espaço em discussões de especialistas em educação e outros profissionais que estão em campanha para diminuir sua incidência nos vários ambientes em que ele acontece ou pode acontecer como escolas, locais de trabalho, em casa, ambientes militares e de política e até mesmo em ambientes públicos.
O que é bullying / bullying nas escolas
fonte: http://www.youtube.com/watch?v=aIjRTYa7UK0
Por desrespeitarem princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana, atos de bullying configuram-se como atos ilícitos. Com isso várias pessoas estão recorrendo à justiça para que atos de bullying sejam ressarcidos de alguma forma. O Código Civil brasileiro determina que todo ato ilícito que cause dano a outra pessoa gera o dever de indenizar. A responsabilidade do ato também pode ser enquadrada no Código de Defesa do Consumidor levando escolas, por exemplo, a também terem responsabilidade sobre o ato tendo em vista que são prestadores de servidos aos consumidores.
No Rio de Janeiro foi sancionada uma lei estadual em 23 de setembro de 2010 obrigando escolas públicas e privadas a notificarem casos de bullying à polícia. Caso a lei seja descumprida, a multa pode chegar a 20 salários mínimos.
Uma pesquisa realizada em 2010 com 5.168 alunos de 25 escolas públicas e particulares revelou que os alunos de 6º e 7º anos são os mais atingidos pelas humilhações do bullying. Desses, 17% estão envolvidos de alguma forma sendo os agressores, ou agredidos, ou os dois. A partir de e-mails ofensivos e difamação em sites de relacionamento como orkut e twitter, o uso de tecnologias de informação e comunicação estão se tornando a forma mais comum de bullying chamado de cyberbullying.
Em março de 2011, um vídeo está circulando na internet virou sucesso pela vingança de um menino que sofria abusos na escola. Devido a esse vídeo, o IBGE informou que no Brasil também acontecem casos de bullying, como no vídeo apresentado, e os dados chegam a ser alarmantes, três em cada dez estudantes no Brasil sofrem de bullying. Confira o vídeo, mais informações sobre esses novos dados e a história do menino que sofria há anos com o bullying.
AUTORA DO LIVRO MENTES INQUIETAS SOBRE TDAH
Doença psíquica: a dor da alma
O que dizer a alguém tão curvado sob o peso de tantos medos; tão fragilizado com o pesado fardo da insegurança; tão assustado com o horrendo fantasma do pânico; tão desesperado diante da incerteza de uma solução?...
O que fazer, quando no vigor dos anos, se deixa de sorrir e de sonhar; quando o sorriso dá lugar ao pranto; quando todos os medos afloram e adquirem um tamanho desproporcional; quando a simples arte de viver torna-se algo tão difícil de realizar?...
É possível que, nunca tendo se sentido assim, a gente chegue até mesmo a aconselhar:
"tire umas férias; faça uma viagem; tente relaxar; vá ao cinema; vá ao teatro; vá bater pernas, olhar vitrines, vá passear..." Outros, menos sensíveis, talvez usem frases como estas: "deixe de bobagem; isso é tolice; você é tão jovem; não existe razão para você se sentir assim; isso é frescura; isso é chilique; é falta do que fazer; é doença de gente chique... pobre não pode se dar o luxo de ter estresse... não tem tempo para sentir "essas coisas", nem dinheiro para pagar psicólogo... terapia é fricote de quem é rico..." Não faltará com certeza gente para receitar: "tome água com açúcar; coma bastante alface; maracujá é calmante; antes de dormir tome um chá: camomila, cidreira, capim santo, flor de laranjeira, maçã com canela... você vai melhorar..."
E aquela pessoa sentindo-se tão triste, tão assustada, tão desarmada, tão humilhada, tão indefesa, tão infeliz... Ouve em silêncio, baixa a cabeça, fica perdida, sem direção; a voz embarga, a lágrima rola, não se controla, nada conforta, não tem palavras, nada diz. Chora seu pranto, sozinha em seu canto, sentindo na pele a mais profunda frustração. Ninguém a entende; todos opinam os mais religiosos sugerem orações. Nada dá certo; o mal continua; o medo aumenta; o pânico se instala; o desespero a invade e a torna incapaz. Incapaz de sorrir, de sonhar, de viver... Incapaz de sair, de trabalhar e até de crer.
Não sabe o que tem... Mas, sabe que tem. Tem consciência dos seus medos, mas não os controla. Percebe o que sente e embora desconheça a sua razão, sente tudo o que diz. Tem uma ferida que dói escondida no fundo da alma, que ninguém pode ver nem pode tocar. Só sabe quem sente... Só sente quem tem... Não merece crédito... Não comove as pessoas... É pura frescura... Não dói em ninguém.
É assim a doença emocional... Não mostra sangue. Não é palpável. Os exames clínicos não detectam; as sofisticadas máquinas de tomografia e ressonância magnética não registram; a maioria das pessoas ignora; boa parte dos médicos não valoriza... mas, nem por isso é menos dolorosa. A dor da alma é tão forte e provoca tanto sofrimento quanto à dor do corpo e ainda é dilatada pelo preconceito dos menos informados, muitos dos quais dentro da própria família. É importante se conscientizar de que a doença emocional – como toda doença – merece respeito e tratamento digno e adequado, com profissionais competentes e especializados. Convém ressaltar, que em se tratando de "doença democrática" que não escolhe sexo, idade, classe social, credo ou profissão, qualquer pessoa, até mesmo médico e psicólogo, pode ser acometida pela doença psíquica.
Para finalizar fica uma palavra amiga aos pacientes com depressão, transtorno do pânico, demais transtornos de ansiedade e do humor, de quem viveu a doença na sua forma mais intensa: "Jamais se deixem abater pela descrença porque a cura é possível e viver ainda é e sempre será o bem maior. Existirão momentos de incerteza e desânimo ao longo do tratamento, mas o importante é vencê-los e manter-se firme na medicação e na psicoterapia, porque lutar vale a pena e a cura é a maior conquista ."
(Por Socorro Capiberibe – sócia fundadora e presidente da AMPARE – 18 anos de transtorno do pânico – atualmente há 10 anos sem crises. O texto foi retirado do livro de sua autoria: O fantasma do pânico ou o fundo do poço: como esquecer? – 3ª edição – esgotada.)
O que dizer a alguém tão curvado sob o peso de tantos medos; tão fragilizado com o pesado fardo da insegurança; tão assustado com o horrendo fantasma do pânico; tão desesperado diante da incerteza de uma solução?...
O que fazer, quando no vigor dos anos, se deixa de sorrir e de sonhar; quando o sorriso dá lugar ao pranto; quando todos os medos afloram e adquirem um tamanho desproporcional; quando a simples arte de viver torna-se algo tão difícil de realizar?...
É possível que, nunca tendo se sentido assim, a gente chegue até mesmo a aconselhar:
"tire umas férias; faça uma viagem; tente relaxar; vá ao cinema; vá ao teatro; vá bater pernas, olhar vitrines, vá passear..." Outros, menos sensíveis, talvez usem frases como estas: "deixe de bobagem; isso é tolice; você é tão jovem; não existe razão para você se sentir assim; isso é frescura; isso é chilique; é falta do que fazer; é doença de gente chique... pobre não pode se dar o luxo de ter estresse... não tem tempo para sentir "essas coisas", nem dinheiro para pagar psicólogo... terapia é fricote de quem é rico..." Não faltará com certeza gente para receitar: "tome água com açúcar; coma bastante alface; maracujá é calmante; antes de dormir tome um chá: camomila, cidreira, capim santo, flor de laranjeira, maçã com canela... você vai melhorar..."
E aquela pessoa sentindo-se tão triste, tão assustada, tão desarmada, tão humilhada, tão indefesa, tão infeliz... Ouve em silêncio, baixa a cabeça, fica perdida, sem direção; a voz embarga, a lágrima rola, não se controla, nada conforta, não tem palavras, nada diz. Chora seu pranto, sozinha em seu canto, sentindo na pele a mais profunda frustração. Ninguém a entende; todos opinam os mais religiosos sugerem orações. Nada dá certo; o mal continua; o medo aumenta; o pânico se instala; o desespero a invade e a torna incapaz. Incapaz de sorrir, de sonhar, de viver... Incapaz de sair, de trabalhar e até de crer.
Não sabe o que tem... Mas, sabe que tem. Tem consciência dos seus medos, mas não os controla. Percebe o que sente e embora desconheça a sua razão, sente tudo o que diz. Tem uma ferida que dói escondida no fundo da alma, que ninguém pode ver nem pode tocar. Só sabe quem sente... Só sente quem tem... Não merece crédito... Não comove as pessoas... É pura frescura... Não dói em ninguém.
É assim a doença emocional... Não mostra sangue. Não é palpável. Os exames clínicos não detectam; as sofisticadas máquinas de tomografia e ressonância magnética não registram; a maioria das pessoas ignora; boa parte dos médicos não valoriza... mas, nem por isso é menos dolorosa. A dor da alma é tão forte e provoca tanto sofrimento quanto à dor do corpo e ainda é dilatada pelo preconceito dos menos informados, muitos dos quais dentro da própria família. É importante se conscientizar de que a doença emocional – como toda doença – merece respeito e tratamento digno e adequado, com profissionais competentes e especializados. Convém ressaltar, que em se tratando de "doença democrática" que não escolhe sexo, idade, classe social, credo ou profissão, qualquer pessoa, até mesmo médico e psicólogo, pode ser acometida pela doença psíquica.
Para finalizar fica uma palavra amiga aos pacientes com depressão, transtorno do pânico, demais transtornos de ansiedade e do humor, de quem viveu a doença na sua forma mais intensa: "Jamais se deixem abater pela descrença porque a cura é possível e viver ainda é e sempre será o bem maior. Existirão momentos de incerteza e desânimo ao longo do tratamento, mas o importante é vencê-los e manter-se firme na medicação e na psicoterapia, porque lutar vale a pena e a cura é a maior conquista ."
(Por Socorro Capiberibe – sócia fundadora e presidente da AMPARE – 18 anos de transtorno do pânico – atualmente há 10 anos sem crises. O texto foi retirado do livro de sua autoria: O fantasma do pânico ou o fundo do poço: como esquecer? – 3ª edição – esgotada.)
Artigo Original O EFEITO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS PODE SER AFETADO PELA COMBINAÇÃO COM
BEBIDAS ENERGÉTICAS - UM ESTUDO COM USUÁRIOS
SIONALDO EDUARDO FERREIRA, MARCO TÚLIO DE MELLO, MARIA LUCIA OLIVEIRA DE SOUZA FORMIGONI*
Trabalho realizado no Departamento de Psicobiologia – UNIFESP, São Paulo, SP.
RESUMO – OBJETIVO. Avaliar em uma amostra de critério, o padrão efeitos do álcool, mas 38% reportaram aumento de alegria, euforia
de uso de bebidas energéticas, isoladamente e em associação com (30%), insônia (11%), desinibição (27%) e do vigor físico (24%).
bebidas alcoólicas. Observou-se grande variabilidade no número de usos de bebidas
MÉTODOS. Cento e trinta e seis voluntários (idade 24 ± 6 anos) energéticas na vida (14 ± 16), mas certa regularidade na quantidaque
relataram ao menos um uso anterior de bebidas energéticas de ingerida por ocasião (1,5 ± 0,7 latas).
foram submetidos a uma entrevista padronizada sobre hábitos de CONCLUSÕES. Os dados sugerem que os efeitos das bebidas
consumo de bebidas energéticas e alcoólicas. energéticas são bastante variáveis, dependendo provavelmente
RESULTADOS. A maioria da amostra relatou usar bebidas da dose ingerida e da sensibilidade individual. Alguns relatos
energéticas tanto isoladamente (79%) como em combinação com sugerem que há interação com o álcool, expressa pelo aumento
bebidas alcoólicas (76%), neste caso preferencialmente com uísque dos efeitos excitatórios ou redução de seus efeitos depressores.
(90%), vodka (37%) ou cerveja (13%). Após a ingestão isolada de São discutidos possíveis mecanismos farmacológicos subjacentes
bebidas energéticas, 61% relataram não sentir nenhum efeito, 10% a esta combinação.
mencionaram aumento da alegria, 9% euforia, 9% insônia, 7%
desinibição e 24% aumento do vigor físico. Dos que relataram uso UNITERMOS: Bebidas energéticas. Bebidas alcoólicas. Cafeína. Taurina.
combinado com álcool, 14% relataram não sentir alteração dos Padrão de uso e interação.
O EFEITO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS
Tabela 1 – Padrão de ingestão de bebidas energéticas: isoladamente ou em combinação com bebidas alcoólicas
FERREIRA SE ET AL.
Nada diferente 61 14
Alegria 10 38
Euforia 9 30
Cefaléia 3 2
Insônia 9 11
Desinibição 7 27
Náusea 1 0
Vigor físico 24 24
Sensação de poder 1 5
Depressão 0 0
Plenitude gástrica 6 4
O EFEITO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS
Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 48-51
BEBIDAS ENERGÉTICAS - UM ESTUDO COM USUÁRIOS
SIONALDO EDUARDO FERREIRA, MARCO TÚLIO DE MELLO, MARIA LUCIA OLIVEIRA DE SOUZA FORMIGONI*
Trabalho realizado no Departamento de Psicobiologia – UNIFESP, São Paulo, SP.
RESUMO – OBJETIVO. Avaliar em uma amostra de critério, o padrão efeitos do álcool, mas 38% reportaram aumento de alegria, euforia
de uso de bebidas energéticas, isoladamente e em associação com (30%), insônia (11%), desinibição (27%) e do vigor físico (24%).
bebidas alcoólicas. Observou-se grande variabilidade no número de usos de bebidas
MÉTODOS. Cento e trinta e seis voluntários (idade 24 ± 6 anos) energéticas na vida (14 ± 16), mas certa regularidade na quantidaque
relataram ao menos um uso anterior de bebidas energéticas de ingerida por ocasião (1,5 ± 0,7 latas).
foram submetidos a uma entrevista padronizada sobre hábitos de CONCLUSÕES. Os dados sugerem que os efeitos das bebidas
consumo de bebidas energéticas e alcoólicas. energéticas são bastante variáveis, dependendo provavelmente
RESULTADOS. A maioria da amostra relatou usar bebidas da dose ingerida e da sensibilidade individual. Alguns relatos
energéticas tanto isoladamente (79%) como em combinação com sugerem que há interação com o álcool, expressa pelo aumento
bebidas alcoólicas (76%), neste caso preferencialmente com uísque dos efeitos excitatórios ou redução de seus efeitos depressores.
(90%), vodka (37%) ou cerveja (13%). Após a ingestão isolada de São discutidos possíveis mecanismos farmacológicos subjacentes
bebidas energéticas, 61% relataram não sentir nenhum efeito, 10% a esta combinação.
mencionaram aumento da alegria, 9% euforia, 9% insônia, 7%
desinibição e 24% aumento do vigor físico. Dos que relataram uso UNITERMOS: Bebidas energéticas. Bebidas alcoólicas. Cafeína. Taurina.
combinado com álcool, 14% relataram não sentir alteração dos Padrão de uso e interação.
INTRODUÇÃO
O consumo de bebidas alcoólicas é
bastante antigo e de alta prevalência na população
mundial. Em geral, quando ingeridas em
baixa quantidade e freqüência, não geram
problemas físicos e/ou psíquicos, sendo desta
maneira consumidas pela maioria das pessoas.
No entanto, o consumo abusivo de bebidas
alcoólicas é bastante prejudicial, sendo a dependência
de álcool uma das principais causas
de problemas físicos e psíquicos atualmente.
bastante antigo e de alta prevalência na população
mundial. Em geral, quando ingeridas em
baixa quantidade e freqüência, não geram
problemas físicos e/ou psíquicos, sendo desta
maneira consumidas pela maioria das pessoas.
No entanto, o consumo abusivo de bebidas
alcoólicas é bastante prejudicial, sendo a dependência
de álcool uma das principais causas
de problemas físicos e psíquicos atualmente.
Vários fatores modulam as respostas fisiológicas
e comportamentais ao álcool, entre
eles: características genéticas, estado geral de
saúde, ambiente de uso (setting), dose e
tempo de ingestão1,2,3.
e comportamentais ao álcool, entre
eles: características genéticas, estado geral de
saúde, ambiente de uso (setting), dose e
tempo de ingestão1,2,3.
Ao longo dos anos, diversas substâncias
foram utilizadas com o intuito de amenizar os
efeitos da intoxicação alcoólica, porém sem
grande sucesso. Recentemente, observou-se
foram utilizadas com o intuito de amenizar os
efeitos da intoxicação alcoólica, porém sem
grande sucesso. Recentemente, observou-se
*Correspondência:
R. Botucatu, 862 – 1o Andar
CEP: 04.023-062 – Vila Clementino – São Paulo – SP
a rápida popularização da ingestão de bebidas
alcoólicas, principalmente destiladas, em
combinação com bebidas energéticas* à base
de carboidratos, taurina e cafeína. A comercialização
destas bebidas é regulamentada pela
Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério
da Saúde.
CEP: 04.023-062 – Vila Clementino – São Paulo – SP
a rápida popularização da ingestão de bebidas
alcoólicas, principalmente destiladas, em
combinação com bebidas energéticas* à base
de carboidratos, taurina e cafeína. A comercialização
destas bebidas é regulamentada pela
Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério
da Saúde.
Relatos populares sobre o aumento dos
efeitos excitatórios do álcool e/ou de diminuição
da intensidade dos seus efeitos depressores
têm contribuído para a propagação do
uso desta mistura. Porém, ainda não existem
evidências científicas se as bebidas energéticas
possuem de fato algum efeito antagonista dos
efeitos depressores do álcool. Embora diversos
relatos a respeito do uso combinado de
bebidas energéticas e álcool tenham sido
veiculados, a maior parte das informações não
são cientificamente embasadas, sendo necessário
estudos sobre o tema.
efeitos excitatórios do álcool e/ou de diminuição
da intensidade dos seus efeitos depressores
têm contribuído para a propagação do
uso desta mistura. Porém, ainda não existem
evidências científicas se as bebidas energéticas
possuem de fato algum efeito antagonista dos
efeitos depressores do álcool. Embora diversos
relatos a respeito do uso combinado de
bebidas energéticas e álcool tenham sido
veiculados, a maior parte das informações não
são cientificamente embasadas, sendo necessário
estudos sobre o tema.
Especula-se que algumas substâncias presentes
na composição das bebidas energéticas
interfiram no metabolismo e/ou nas ações
farmacológicas do álcool. Estudos com animais
na composição das bebidas energéticas
interfiram no metabolismo e/ou nas ações
farmacológicas do álcool. Estudos com animais
de laboratório têm demonstrado interações
farmacológicas entre o álcool e a taurina, um
dos componentes das bebidas energéticas4,5,6.
farmacológicas entre o álcool e a taurina, um
dos componentes das bebidas energéticas4,5,6.
Trabalhos prévios demonstraram que a
administração de bebida energética reverteu
alguns dos efeitos depressores na atividade
locomotora de camundongos induzidos
por 2,5 g/kg de álcool7,8. Entretanto, em
seres humanos, há poucos estudos sobre os
efeitos da ingestão de bebidas energéticas,
especialmente em combinação com bebidas
alcoólicas9-13.
administração de bebida energética reverteu
alguns dos efeitos depressores na atividade
locomotora de camundongos induzidos
por 2,5 g/kg de álcool7,8. Entretanto, em
seres humanos, há poucos estudos sobre os
efeitos da ingestão de bebidas energéticas,
especialmente em combinação com bebidas
alcoólicas9-13.
Dado o reduzido número de trabalhos
sobre o tema, este estudo teve por objetivo
avaliar o padrão de uso das bebidas
energéticas em uma amostra de critério
formada por usuários destas bebidas.
sobre o tema, este estudo teve por objetivo
avaliar o padrão de uso das bebidas
energéticas em uma amostra de critério
formada por usuários destas bebidas.
MÉTODOS
Amostra: Foi utilizada uma amostra de critério,
composta por 136 voluntários, de ambos
os sexos, com idade entre 14 e 42 anos, que
relataram ao menos um uso de bebidas
energéticas na vida.
composta por 136 voluntários, de ambos
os sexos, com idade entre 14 e 42 anos, que
relataram ao menos um uso de bebidas
energéticas na vida.
* a maioria das marcas de bebidas energéticas (energy drinks) comercializadas no Brasil consiste numa mistura de carboidratos (cerca de 11 g/dl) com taurina (cerca de 400 mg/dl), cafeína (cerca de 32 mg/dl), gluconolactona
(cerca de 240 mg/dl) e vitaminas do complexo B, embora existam algumas preparações à base de ervas comercializadas com nome semelhante.
Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 48-51
(cerca de 240 mg/dl) e vitaminas do complexo B, embora existam algumas preparações à base de ervas comercializadas com nome semelhante.
Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 48-51
O EFEITO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS
Anexo 1 – Questionário sobre o padrão de uso de bebidas energéticas
•
Este questionário visa o conhecimento do Padrão de Uso de Bebidas Energéticas pela população em geral, por isso é
importante que você responda corretamente a todas as perguntas que lhe serão feitas.
•
Nenhum dos voluntários desta pesquisa será identificado, sendo os dados aqui apontados de uso exclusivo para fins científicos.
1) Idade:.............anos Sexo: (a) M (b) F Altura:..............cm Peso:.............Kg
2) Você já fez uso de Bebida Energética? (a) Sim (b) Não.
3) Se sim, quantas vezes aproximadamente?........................vezes
4) Normalmente, quantas latas consome?...........................latas
5) Você já usou bebidas energéticas junto com bebidas alcoólicas?
Este questionário visa o conhecimento do Padrão de Uso de Bebidas Energéticas pela população em geral, por isso é
importante que você responda corretamente a todas as perguntas que lhe serão feitas.
•
Nenhum dos voluntários desta pesquisa será identificado, sendo os dados aqui apontados de uso exclusivo para fins científicos.
1) Idade:.............anos Sexo: (a) M (b) F Altura:..............cm Peso:.............Kg
2) Você já fez uso de Bebida Energética? (a) Sim (b) Não.
3) Se sim, quantas vezes aproximadamente?........................vezes
4) Normalmente, quantas latas consome?...........................latas
5) Você já usou bebidas energéticas junto com bebidas alcoólicas?
(a) Sim (b) Não. Se sim, com qual(is)? (a) Cerveja (b) Vodka (c) Uísque (d) Cachaça (e) Tequila
(f) Outras..............................................................................
6A)Quais os efeitos que freqüentemente você sente depois de ingerir energéticos com álcool?
(a) nada diferente (b) alegria (c) euforia (d) cefaléia (e) insônia (f) desinibição (g) náusea (h) vigor físico
(i) sensação de poder (j) depressão (k) sensação de estômago cheio.
6B)Quais os efeitos que freqüentemente você sente depois de ingerir energéticos sem álcool ?
(a) nada diferente (b) alegria (c) euforia (d) cefaléia (e) insônia (f) desinibição (g) náusea (h) vigor físico
(i) sensação de poder (j) depressão (k) sensação de estômago cheio.
7) Em relação à primeira vez que ingeriu bebida energética, quando você ingere uma lata, os efeitos são:
(a) menores (b) maiores (c) continuam os mesmos (d) variáveis.
8) Em que ocasiões você faz uso de bebida energética?
(a) atividade física (b) trabalho (c) dirigir veículos (d) casas noturnas (e) festas (f) outras:..............................
9) Com que objetivo? ...............................................................................................................................................
10) Espaço para comentários sobre as bebidas energéticas:.............................................................................................
...........................................................................................................................................................................
(f) Outras..............................................................................
6A)Quais os efeitos que freqüentemente você sente depois de ingerir energéticos com álcool?
(a) nada diferente (b) alegria (c) euforia (d) cefaléia (e) insônia (f) desinibição (g) náusea (h) vigor físico
(i) sensação de poder (j) depressão (k) sensação de estômago cheio.
6B)Quais os efeitos que freqüentemente você sente depois de ingerir energéticos sem álcool ?
(a) nada diferente (b) alegria (c) euforia (d) cefaléia (e) insônia (f) desinibição (g) náusea (h) vigor físico
(i) sensação de poder (j) depressão (k) sensação de estômago cheio.
7) Em relação à primeira vez que ingeriu bebida energética, quando você ingere uma lata, os efeitos são:
(a) menores (b) maiores (c) continuam os mesmos (d) variáveis.
8) Em que ocasiões você faz uso de bebida energética?
(a) atividade física (b) trabalho (c) dirigir veículos (d) casas noturnas (e) festas (f) outras:..............................
9) Com que objetivo? ...............................................................................................................................................
10) Espaço para comentários sobre as bebidas energéticas:.............................................................................................
...........................................................................................................................................................................
Tabela 1 – Padrão de ingestão de bebidas energéticas: isoladamente ou em combinação com bebidas alcoólicas
Ingestão isolada 79%
Número de latas por ocasião de uso 1,5 ± 0,7
Número de usos na vida 14,4 ± 16,3
Intensidade dos efeitos em relação menor 10%
ao primeiro uso maior 4%
igual 71
variável 5
só usou uma vez 9
Local de uso academias 20
trabalho 4
direção de veículos 3
casas noturnas 71
festas 50
Ingestão com bebidas alcoólicas 76
Bebida alcoólica de preferência uísque 90
para uso combinado vodka 37
cerveja 13
outras 11
Número de latas por ocasião de uso 1,5 ± 0,7
Número de usos na vida 14,4 ± 16,3
Intensidade dos efeitos em relação menor 10%
ao primeiro uso maior 4%
igual 71
variável 5
só usou uma vez 9
Local de uso academias 20
trabalho 4
direção de veículos 3
casas noturnas 71
festas 50
Ingestão com bebidas alcoólicas 76
Bebida alcoólica de preferência uísque 90
para uso combinado vodka 37
cerveja 13
outras 11
Procedimentos: Os voluntários foram convidados
pelos pesquisadores através de abordagem
direta na entrada de casas noturnas, academias
de ginástica e na Universidade Federal
de São Paulo, na cidade de São Paulo, SP. Após
pelos pesquisadores através de abordagem
direta na entrada de casas noturnas, academias
de ginástica e na Universidade Federal
de São Paulo, na cidade de São Paulo, SP. Após
bebidas alcoólicas e energéticas (Anexo 1).
Apenas os indivíduos que haviam feito uso
anterior de bebidas energéticas e concordaram
em responder às perguntas da entrevista
foram admitidos como voluntários. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIFESP (394/00).
Apenas os indivíduos que haviam feito uso
anterior de bebidas energéticas e concordaram
em responder às perguntas da entrevista
foram admitidos como voluntários. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIFESP (394/00).
RESULTADOS
A amostra incluiu proporção semelhante
de homens (56%) e mulheres (44%), sendo a
idade média dos entrevistados de 24 ± 6 anos.
A Tabela 1 apresenta as principais características
do padrão de uso das bebidas energéticas.
Observou-se grande variabilidade na
freqüência de uso de bebidas energéticas,
observamos desde uso único (9% dos casos) a
até 100 usos na vida conforme relatado (14 ±
16 usos MD±DP). Entretanto, observou-se
certa regularidade na quantidade consumida
por ocasião de uso, variando entre uma e três
latas por ocasião (1,5 ± 0,7 latas MD±DP).
de homens (56%) e mulheres (44%), sendo a
idade média dos entrevistados de 24 ± 6 anos.
A Tabela 1 apresenta as principais características
do padrão de uso das bebidas energéticas.
Observou-se grande variabilidade na
freqüência de uso de bebidas energéticas,
observamos desde uso único (9% dos casos) a
até 100 usos na vida conforme relatado (14 ±
16 usos MD±DP). Entretanto, observou-se
certa regularidade na quantidade consumida
por ocasião de uso, variando entre uma e três
latas por ocasião (1,5 ± 0,7 latas MD±DP).
A maioria dos entrevistados relatou fazer
uso de bebidas energéticas em casas noturnas
(71%) e festas (50%), mas também foi relatado
uso durante a realização de atividades físicas
em academias (20%), durante o trabalho (4%)
e antes de dirigir veículos (3%).
uso de bebidas energéticas em casas noturnas
(71%) e festas (50%), mas também foi relatado
uso durante a realização de atividades físicas
em academias (20%), durante o trabalho (4%)
e antes de dirigir veículos (3%).
Quanto às razões de uso, cerca de 30% da
amostra comentou usar uísque com bebida
energética para se manterem estimulados a
noite toda. Reduzindo assim, com a combinação,
alguns dos efeitos depressores do álcool.
Alguns entrevistados relataram usar a bebida
energética para diluir e melhorar o sabor das
bebidas alcoólicas, considerado pouco agradável.
Ocorreram relatos de uso de bebidas
energéticas como opção alternativa a outras
bebidas, às vezes em substituição a bebidas
alcoólicas ou refrigerante, por exemplo.
amostra comentou usar uísque com bebida
energética para se manterem estimulados a
noite toda. Reduzindo assim, com a combinação,
alguns dos efeitos depressores do álcool.
Alguns entrevistados relataram usar a bebida
energética para diluir e melhorar o sabor das
bebidas alcoólicas, considerado pouco agradável.
Ocorreram relatos de uso de bebidas
energéticas como opção alternativa a outras
bebidas, às vezes em substituição a bebidas
alcoólicas ou refrigerante, por exemplo.
A maioria dos entrevistados (76%) relatou
fazer uso de bebidas energéticas de forma
combinada com bebidas alcoólicas, sendo
que, neste caso, 91% utilizavam bebidas
destiladas. Preferencialmente, as bebidas
energéticas eram ingeridas em combinação
com uísque (90%), vodka (37%) e cerveja
(13%). O relato de uso de bebida energética
pura também foi freqüente (79%).
fazer uso de bebidas energéticas de forma
combinada com bebidas alcoólicas, sendo
que, neste caso, 91% utilizavam bebidas
destiladas. Preferencialmente, as bebidas
energéticas eram ingeridas em combinação
com uísque (90%), vodka (37%) e cerveja
(13%). O relato de uso de bebida energética
pura também foi freqüente (79%).
Considerando-se toda a amostra, apenas
10% relataram tolerância (redução dos efeitos)
e 4% aumento dos efeitos em relação ao
primeiro uso. De modo geral, os usuários
relataram efeitos agradáveis, sendo baixa a
10% relataram tolerância (redução dos efeitos)
e 4% aumento dos efeitos em relação ao
primeiro uso. De modo geral, os usuários
relataram efeitos agradáveis, sendo baixa a
Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 48-51
esclarecimento sobre os objetivos do projeto
e garantia de sigilo e anonimato, foi aplicada
uma entrevista padronizada que incluía dados
demográficos (idade e sexo), índices corporais
(peso e altura) e questões sobre o uso de
e garantia de sigilo e anonimato, foi aplicada
uma entrevista padronizada que incluía dados
demográficos (idade e sexo), índices corporais
(peso e altura) e questões sobre o uso de
FERREIRA SE ET AL.
Tabela 2 – Efeitos percebidos após a ingestão de bebida energética pura e em combinação com bebidas alcoólicas
Efeitos percebidos (%) Bebida energética pura Bebida energética com álcool
Efeitos percebidos (%) Bebida energética pura Bebida energética com álcool
Nada diferente 61 14
Alegria 10 38
Euforia 9 30
Cefaléia 3 2
Insônia 9 11
Desinibição 7 27
Náusea 1 0
Vigor físico 24 24
Sensação de poder 1 5
Depressão 0 0
Plenitude gástrica 6 4
ocorrência de efeitos desagradáveis (12%).
Nestes casos, os efeitos mais relatados foram
insônia (7%), sensação de plenitude gástrica
(3,5%) e cefaléia (1,5%). Não foram detectadas
diferenças entre o uso isolado e combinado
com bebidas alcoólicas em relação aos
efeitos desagradáveis.
Nestes casos, os efeitos mais relatados foram
insônia (7%), sensação de plenitude gástrica
(3,5%) e cefaléia (1,5%). Não foram detectadas
diferenças entre o uso isolado e combinado
com bebidas alcoólicas em relação aos
efeitos desagradáveis.
Em relação ao uso de bebidas energéticas,
a maioria relatou não observar efeitos significativos
após sua ingestão isolada (61%). Entretanto,
ao mencionar os efeitos percebidos
após a ingestão de bebidas energéticas em
combinação com bebidas alcoólicas, 86% da
amostra relatou alguma alteração, como
aumento da alegria (38%), da euforia (30%),
da desinibição (27%) e do vigor físico (24%). A
Tabela 2 apresenta os principais efeitos percebidos
após a ingestão de bebidas energéticas
isoladamente e após combinação com bebidas
alcoólicas.
a maioria relatou não observar efeitos significativos
após sua ingestão isolada (61%). Entretanto,
ao mencionar os efeitos percebidos
após a ingestão de bebidas energéticas em
combinação com bebidas alcoólicas, 86% da
amostra relatou alguma alteração, como
aumento da alegria (38%), da euforia (30%),
da desinibição (27%) e do vigor físico (24%). A
Tabela 2 apresenta os principais efeitos percebidos
após a ingestão de bebidas energéticas
isoladamente e após combinação com bebidas
alcoólicas.
DISCUSSÃO
São poucos os estudos sobre os efeitos da
ingestão de bebidas energéticas, sendo este,
ao nosso conhecimento, o primeiro sobre seu
padrão de uso no Brasil.
ingestão de bebidas energéticas, sendo este,
ao nosso conhecimento, o primeiro sobre seu
padrão de uso no Brasil.
Os resultados obtidos indicam que apesar
das recomendações inseridas no rótulo do
produto, a respeito de se evitar sua mistura
com álcool, esta prática é bastante comum,
especialmente entre freqüentadores de casas
noturnas. Observou-se grande variabilidade
individual quanto aos efeitos relatados.
das recomendações inseridas no rótulo do
produto, a respeito de se evitar sua mistura
com álcool, esta prática é bastante comum,
especialmente entre freqüentadores de casas
noturnas. Observou-se grande variabilidade
individual quanto aos efeitos relatados.
Uma importante questão sobre o uso de
bebidas energéticas é a possível alteração do
padrão de uso de bebidas alcoólicas, especialmente
das destiladas. Grande parte da amostra
relatou não ter por hábito ingerir uísque e/ou
vodka, mas o fazer, e por vezes em grande
bebidas energéticas é a possível alteração do
padrão de uso de bebidas alcoólicas, especialmente
das destiladas. Grande parte da amostra
relatou não ter por hábito ingerir uísque e/ou
vodka, mas o fazer, e por vezes em grande
quantidade, quando em combinação com bebidas
energéticas. Isto sugere que a melhora
no sabor, obtida pela mistura, poderia estimular
a ingestão de maiores quantidades de bebidas
destiladas.
energéticas. Isto sugere que a melhora
no sabor, obtida pela mistura, poderia estimular
a ingestão de maiores quantidades de bebidas
destiladas.
Se a sensação de redução dos efeitos
depressores do álcool não for acompanhada
por redução do prejuízo na coordenação
motora e no tempo de reação a estímulos, o
indivíduo sob efeito da mistura pode superestimar
sua capacidade de desempenhar
atividades, aumentando assim o risco de se
envolver em acidentes. Estudos com voluntários
demonstraram que a ingestão de uma
lata de bebida energética não reduziu os prejuízos
provocados pela ingestão de álcool
(0,6 e 1,0 g/kg) nas capacidades de atenção,
tempo de reação visual e coordenação motora13.
depressores do álcool não for acompanhada
por redução do prejuízo na coordenação
motora e no tempo de reação a estímulos, o
indivíduo sob efeito da mistura pode superestimar
sua capacidade de desempenhar
atividades, aumentando assim o risco de se
envolver em acidentes. Estudos com voluntários
demonstraram que a ingestão de uma
lata de bebida energética não reduziu os prejuízos
provocados pela ingestão de álcool
(0,6 e 1,0 g/kg) nas capacidades de atenção,
tempo de reação visual e coordenação motora13.
Entre os poucos trabalhos encontrados na
literatura a respeito da interação entre álcool e
bebidas energéticas, destaca-se o de Riesselman
et al. (1996) que sugeriram que usuários
desta combinação poderiam fazer um
juízo errôneo de suas capacidades e provocar
acidentes com maior probabilidade do que
somente após a ingestão de álcool.
literatura a respeito da interação entre álcool e
bebidas energéticas, destaca-se o de Riesselman
et al. (1996) que sugeriram que usuários
desta combinação poderiam fazer um
juízo errôneo de suas capacidades e provocar
acidentes com maior probabilidade do que
somente após a ingestão de álcool.
Os dados obtidos até o momento indicam
que as bebidas energéticas, especialmente
aquelas que contém taurina e cafeína, vêm
sendo utilizadas para potencializar os efeitos
estimulantes do álcool. Resta identificar se este
efeito é farmacologicamente explicável e quais
os mecanismos envolvidos, ou se é apenas um
efeito placebo.
que as bebidas energéticas, especialmente
aquelas que contém taurina e cafeína, vêm
sendo utilizadas para potencializar os efeitos
estimulantes do álcool. Resta identificar se este
efeito é farmacologicamente explicável e quais
os mecanismos envolvidos, ou se é apenas um
efeito placebo.
Constam na literatura alguns trabalhos
relatando os efeitos da ingestão de bebidas
energéticas como melhora do desempenho
psicomotor, redução do tempo de reação
motora, aumento da concentração ou da
relatando os efeitos da ingestão de bebidas
energéticas como melhora do desempenho
psicomotor, redução do tempo de reação
motora, aumento da concentração ou da
memória imediata e aumento da sensação
subjetiva de alerta ou vigor. Há também relatos
sobre a melhora do estado de humor e do
desempenho físico após a ingestão de Red
BullÒ9,10,11. Nestes estudos, os autores atribuem
os efeitos à ingestão do composto, mas
como não testaram seus componentes isoladamente
não puderam sugerir os prováveis
mecanismos de ação.
subjetiva de alerta ou vigor. Há também relatos
sobre a melhora do estado de humor e do
desempenho físico após a ingestão de Red
BullÒ9,10,11. Nestes estudos, os autores atribuem
os efeitos à ingestão do composto, mas
como não testaram seus componentes isoladamente
não puderam sugerir os prováveis
mecanismos de ação.
No presente estudo, os relatos de
diminuição do sono e de aumento da
sensação de prazer ao se ingerir bebidas
alcoólicas em combinação com energéticas
sugerem que estas poderiam prolongar
a duração dos efeitos excitatórios do
álcool. Uma possibilidade de explicação
para este efeito seria uma modulação da
neurotransmissão gabaérgica exercida
pela taurina. Sabe-se que o efeito depres sor
do álcool está associado a aumento da
neurotransmissão mediada pelo GABA
(ácido gama-amino-butírico). Desta forma,
diminuindo a atividade gabaérgica,
a taurina reduziria o efeito depressor do
álcool14. É possível também que a redução
do efeito depressor do álcool seja devida
às ações estimulantes da cafeína no córtex
cerebral. Alguns estudos demonstram que
em determinadas doses a co-administração
de cafeína reduz alguns dos efeitos
depressores do álcool15,16. Entretanto, não
há estudos sobre a administração conjunta
de taurina, cafeína e álcool que permitam
fortalecer alguma destas hipóteses.
diminuição do sono e de aumento da
sensação de prazer ao se ingerir bebidas
alcoólicas em combinação com energéticas
sugerem que estas poderiam prolongar
a duração dos efeitos excitatórios do
álcool. Uma possibilidade de explicação
para este efeito seria uma modulação da
neurotransmissão gabaérgica exercida
pela taurina. Sabe-se que o efeito depres sor
do álcool está associado a aumento da
neurotransmissão mediada pelo GABA
(ácido gama-amino-butírico). Desta forma,
diminuindo a atividade gabaérgica,
a taurina reduziria o efeito depressor do
álcool14. É possível também que a redução
do efeito depressor do álcool seja devida
às ações estimulantes da cafeína no córtex
cerebral. Alguns estudos demonstram que
em determinadas doses a co-administração
de cafeína reduz alguns dos efeitos
depressores do álcool15,16. Entretanto, não
há estudos sobre a administração conjunta
de taurina, cafeína e álcool que permitam
fortalecer alguma destas hipóteses.
A ampliação e diversificação desta amostra
são fundamentais para o melhor conhecimento
dos hábitos de uso e efeitos observados
após a ingestão combinada de bebidas alcoólicas
e energéticas, que popularizou-se e
vem aumentando rapidamente, especialmente
entre a população mais jovem.
são fundamentais para o melhor conhecimento
dos hábitos de uso e efeitos observados
após a ingestão combinada de bebidas alcoólicas
e energéticas, que popularizou-se e
vem aumentando rapidamente, especialmente
entre a população mais jovem.
Encontram-se em andamento estudos
com voluntários e em animais de laboratório
que têm por objetivo avaliar, de maneira sistematizada,
os efeitos agudos e crônicos da
ingestão de álcool com bebidas energéticas.
com voluntários e em animais de laboratório
que têm por objetivo avaliar, de maneira sistematizada,
os efeitos agudos e crônicos da
ingestão de álcool com bebidas energéticas.
SUMMARY
CAN ENERGY DRINKS AFFECT THE
EFFECTS OF ALCOHOLIC BEVERAGES? A STUDY
WITH USERS
EFFECTS OF ALCOHOLIC BEVERAGES? A STUDY
WITH USERS
OBJECTIVES. The pattern of use of energy
drinks, alone or combined with alcoholic
beverages, was evaluated in a criteria sample.
drinks, alone or combined with alcoholic
beverages, was evaluated in a criteria sample.
Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 48-51
O EFEITO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS
METHODS. 136 volunteers aged 24 ± 6 years,
who had reported at least one previous use of
energy drinks, answered a questionnaire on their
pattern of use of energy drinks and alcoholic
beverages.
who had reported at least one previous use of
energy drinks, answered a questionnaire on their
pattern of use of energy drinks and alcoholic
beverages.
RESULTS. Most of the sample (76%) reported
using energy drinks in combination with alcoholic
beverages, preferably whisky (90%), vodka
(37%) and beer (13%). Most of the sample
(79%) also reported using energy drinks alone. In
the latter case, 61% of them reported not feeling
any effect, 10% reported happiness, 9%
euphoria, 9% insomnia, 7% uninhibited behavior
and 24% increase in physical vigor. Out of
those who reported combined use with alcohol,
14% told not to feel different, 38% increase
happiness, 30% euphoria, 11% insomnia, 27%
uninhibited behavior and 24% increase of
physical vigor. High level of variability was
observed in the number of lifetime uses of energy
drinks (14 ± 16). However, there was certain
constancy in the number of cans ingested per
occasion (1.5 ± 0.7).
using energy drinks in combination with alcoholic
beverages, preferably whisky (90%), vodka
(37%) and beer (13%). Most of the sample
(79%) also reported using energy drinks alone. In
the latter case, 61% of them reported not feeling
any effect, 10% reported happiness, 9%
euphoria, 9% insomnia, 7% uninhibited behavior
and 24% increase in physical vigor. Out of
those who reported combined use with alcohol,
14% told not to feel different, 38% increase
happiness, 30% euphoria, 11% insomnia, 27%
uninhibited behavior and 24% increase of
physical vigor. High level of variability was
observed in the number of lifetime uses of energy
drinks (14 ± 16). However, there was certain
constancy in the number of cans ingested per
occasion (1.5 ± 0.7).
CONCLUSIONS. It was observed that the effects
of energy drinks are variable, probably depending
on the dose and individual sensitivity. Some
reports suggest interaction with alcohol,
expressed as an increase in the excitatory effects
or reduction in the depressive effects. The
possible pharmacological mechanisms underlying
this interaction are discussed. [Rev Assoc
Med Bras 2004; 50(1): 48-51]
of energy drinks are variable, probably depending
on the dose and individual sensitivity. Some
reports suggest interaction with alcohol,
expressed as an increase in the excitatory effects
or reduction in the depressive effects. The
possible pharmacological mechanisms underlying
this interaction are discussed. [Rev Assoc
Med Bras 2004; 50(1): 48-51]
KEY WORDS: Energy drinks. Caffeine. Taurine.
Pattern of use. Alcoholic beverages and
interaction.
Pattern of use. Alcoholic beverages and
interaction.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a participação de Marcio
Vinícius Rossi, Renata Guedes Koyama e Rita Aurélia
Boscolo Pereira na coleta de dados desta pesquisa.
Esta pesquisa recebeu apoio financeiro da Associação
Fundo de Incentivo à Psicofarmacologia (AFIP),
do CNPq e da FAPESP (00/15043-7) e apoio estrutural
do Centro de Estudos em Psicobiologia e
Exercício (CEPE/UNIFESP).
Vinícius Rossi, Renata Guedes Koyama e Rita Aurélia
Boscolo Pereira na coleta de dados desta pesquisa.
Esta pesquisa recebeu apoio financeiro da Associação
Fundo de Incentivo à Psicofarmacologia (AFIP),
do CNPq e da FAPESP (00/15043-7) e apoio estrutural
do Centro de Estudos em Psicobiologia e
Exercício (CEPE/UNIFESP).
REFERÊNCIAS
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and the Nervous System. N Engl J Med 1989;
321(7):442-54.
2. Kalant H. Current trends in biomedical
research on alcohol. Alcohol Alcoholism Suppl
1987; (1):1-12.
3. Valenzuela CF. Alcohol and neurotransmitter
interactions. Alcohol Health Res W 1997;
21(2):144-8.
4. Aragon CMG, Trudeau LE, Amit Z. Effect of
taurine on ethanol-induced changes in openfield
locomotor activity. Psychopharmacology
1992; 107(2/3):337-40.
5. Dahchour A, Quertemont E, De Witte P.
Taurine increases in the nucleus accumbens
microdialysate after ethanol administration to
naive and chronically alcholised rats. Brain Res
1996; 735(1):9-19.
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DS, Timbrell JA. Taurine: protective properties
against ethanol-induced hepatic steatosis
and peroxidation during chronic ethanol
consumption in rats. Amino Acids 1998;
15(1-2):53-76.
7. Ferreira SE, Quadros IMH, Mello MT,
Formigoni MLOS. Atividade locomotora de
camundongos após administração de etanol
com bebidas energéticas. In: Reunião Anual da
Federação das Sociedades de Biologia Experimental
(FeSBE). Caxambú – MG, 2001.
Resumos. p.42.
8. Quadros IMH, Takahashi S, Bianchi MF,
Trindade AA, Ferreira SE, Souza-Formigoni
MLO. A co-administração de bebida energética
impede o efeito depressor do etanol
sobre a atividade locomotora de camundongos.
In: XVII Reunião Anual da Federação
das Sociedades de Biologia Experimental
(FeSBE). Salvador – BA, 2002. Resumos.
p.126.
9. Alford C, Cox H, Wescott R. The effects of red
bull energy drink on human performance and
mood. Amino Acids 2001; 21(2):139-50.
10. Horne JA, Reyner LA. Benefical effects of
“energy drink” give sleepy drivers. Amino
Acids 2001; 20(1):83-9.
11. Seidl R, Peyrl A, Nicham R, Hauser E. Taurine
and caffeine-containing drink stimulates cognitive
performance and well-being. Amino
Acids 2000; 19(3-4):635-42.
12. Riesselman B, Rosenbaum F, Schneider V.
Alcohol and energy drink can combined
consumption of both beverages modify
automobile driving? Blutalkohol 1996; 33:4
13. Ferreira SE. Estudo dos efeitos fisiológicos e
psicológicos da ingestão combinada de álcool e
bebidas energéticas (dissertação). São Paulo:
Universidade Federal de São Paulo, Escola
Paulista de Medicina; 2002.
14. Kuriyama K, Hashimoto T. Interrelationship
between taurine and GABA. Adv Exp Med Biol
1998; 442:329-37.
15. Fudin R, Nicastro R. Can caffeine antagonize
alcohol-induced performance decrements in
humans? Percept Motor Skills 1988;
67(2):375-91.
16. Liguori A, Robinson JH. Caffeine antagonism
of alcohol-induced driving impairment. Drug
Alcohol Dependence 2001; 63(2):123-9.
Artigo recebido: 24/10/02
Aceito para publicação: 19/09/03
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camundongos após administração de etanol
com bebidas energéticas. In: Reunião Anual da
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8. Quadros IMH, Takahashi S, Bianchi MF,
Trindade AA, Ferreira SE, Souza-Formigoni
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impede o efeito depressor do etanol
sobre a atividade locomotora de camundongos.
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15. Fudin R, Nicastro R. Can caffeine antagonize
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16. Liguori A, Robinson JH. Caffeine antagonism
of alcohol-induced driving impairment. Drug
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Artigo recebido: 24/10/02
Aceito para publicação: 19/09/03
Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 48-51
"Não existe uma definição consensual ou incontroversa de violência. O termo é potente demais para que isso seja possível." Anthony Asblaster Dicionário do Pensamento Social do Século XX
O que é violência? Segundo o Dicionário Houaiss, violência é a “ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força”. No aspecto jurídico, o mesmo dicionário define o termo como o “constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação”.
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como “a imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Mas os especialistas afirmam que o conceito é muito mais amplo e ambíguo do que essa mera constatação de que a violência é a imposição de dor, a agressão cometida por uma pessoa contra outra; mesmo porque a dor é um conceito muito difícil de ser definido.
Para todos os efeitos, guerra, fome, tortura, assassinato, preconceito, a violência se manifesta de várias maneiras. Na comunidade internacional de direitos humanos, a violência é compreendida como todas as violações dos direitos civis (vida, propriedade, liberdade de ir e vir, de consciência e de culto); políticos (direito a votar e a ser votado, ter participação política); sociais (habitação, saúde, educação, segurança); econômicos (emprego e salário) e culturais (direito de manter e manifestar sua própria cultura). As formas de violência, tipificadas como violação da lei penal, como assassinato, seqüestros, roubos e outros tipos de crime contra a pessoa ou contra o patrimônio, formam um conjunto que se convencionou chamar de violência urbana, porque se manifesta principalmente no espaço das grandes cidades. Não é possível deixar de lado, no entanto, as diferentes formas de violência existentes no campo.
A violência urbana, no entanto, não compreende apenas os crimes, mas todo o efeito que provocam sobre as pessoas e as regras de convívio na cidade. A violência urbana interfere no tecido social, prejudica a qualidade das relações sociais, corrói a qualidade de vida das pessoas. Assim, os crimes estão relacionados com as contravenções e com as incivilidades. Gangues urbanas, pixações, depredação do espaço público, o trânsito caótico, as praças malcuidadas, sujeira em período eleitoral compõem o quadro da perda da qualidade de vida. Certamente, o tráfico de drogas, talvez a ramificação mais visível do crime organizado, acentua esse quadro, sobretudo nas grandes e problemáticas periferias.
Hoje, no Brasil, a violência, que antes estava presente nas grandes cidades, espalha-se para cidades menores, à medida que o crime organizado procura novos espaços. Além das dificuldades das instituições de segurança pública em conter o processo de interiorização da violência, a degradação urbana contribui decisivamente para ele, já que a pobreza, a desigualdade social, o baixo acesso popular à justiça não são mais problemas exclusivos das grandes metrópoles. Na última década, a violência tem estado presente em nosso dia-a-dia, no noticiário e em conversas com amigos. Todos conhecem alguém que sofreu algum tipo de violência. Há diferenças na visão das causas e de como superá-las, mas a maioria dos especialistas no assunto afirma que a violência urbana é algo evitável, desde que políticas de segurança pública e social sejam colocadas em ação. É preciso atuar de maneira eficaz tanto em suas causas primárias quanto em seus efeitos. É preciso aliar políticas sociais que reduzam a vulnerabilidade dos moradores das periferias, sobretudo dos jovens, à repressão ao crime organizado. Uma tarefa que não é só do Poder Público, mas de toda a sociedade civil.
|
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: há os casamentos do tipo Tênis e há os casamentos do tipo Frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam mal. Os casamentos do tipo Frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa. Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta:
"Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?"
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Sherezade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, e terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos
Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, Sherezade o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da
eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras.
E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes. Fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo:
"Eu te amo". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia
Prado: "Erótica é a alma".
Tênis é um jogo feroz. O objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: O outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada. Palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
Frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra. O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá....
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão.. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres ao vento. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha, para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para
que o jogo nunca tenha fim...
RUBEM ALVES
De todos os pássaros, os beija-flores são os que mais me fascinam. Suas cores brilhantes: verde, azul, preto. Nunca vi mas sei que alguns têm cores vermelhas. Flutuam no espaço como nenhum outro pássaro, suas asas batendo com uma velocidade tal que as torna invisíveis. E a velocidade do seu voo: pairam no ar, imóveis, sugando a flor. De repente transformam-se em flechas que disparam pelo ar. Vivem do mel das flores. Enfiam seu bico fálico no orifício vaginal das flores, suas pequenas línguas saem e sugam o néctar doce.
Foi assim a primeira vez: como o beijo manso e inofensivo de um beija-flor. Você sentiu sua língua doce entrando no seu corpo. De repente tudo ficou colorido, brilhante, leve. Alegre. Como se você estivesse sendo tocado pelos deuses. Que bom se a vida fosse sempre assim!
O beija-flor se foi e sua vida voltou ao que era, o cotidiano de sempre que lhe parecia bobo e sem sentido. A vida ficava muito mais bonita com o beijo do beija-flor! O beija-flor voltou. Você ficou alegre. A experiência se repetiu. Você pediu que ele lhe enfiasse seu fino bico como da primeira vez. Esses beija-flores sempre obedecem. Você não percebeu que a linguinha do beija-flor estava um pouquinho maior, entrava mais fundo em você. Mas, que importância tinha isso diante da alegria que o beija-flor lhe trazia?
Aí o beija-flor se transformou no seu pássaro encantado. Você pensava nele durante a sua ausência e sua vida passou a ser uma espera do seu retorno.
Cada vez que ele voltava sua língua ficava um pouco maior. Ia mais fundo. Dividiu-se em várias. Passou a entrar em muitas direções do seu corpo e da sua alma ao mesmo tempo. O beija-flor já não era o passarinho inofensivo do primeiro dia. Cresceu. Você percebeu que havia garras nos seus pés. E havia anzóis em suas línguas. Você começou a querer livrar-se dele. Mas ele já havia cavado buracos profundos no seu corpo e na sua alma. Na ausência do beija-flor esses buracos doíam com uma dor insuportável. Mas ele sempre voltava - tão diferente! - e fazia a dor passar. Agora o que o ligava ao beija-flor não mais era o prazer do primeiro dia. Era o prazer (tolo) de ver a dor passar.
A mitologia Grega conta de um herói, Prometeu. Prometeu desafiou os deuses, roubou o fogo e deu-o aos homens. Como castigo ele foi acorrentado numa rocha e um abutre vinha diariamente comer um pedaço do seu fígado.
Prometeu é você. O beija-flor o enganou. Disse-lhe que era possível ter a felicidade dos deuses sem fazer esforço: bastava aceitar o seu beijo. Você - menino bobão - acreditou. Agora você está acorrentado num rochedo. Você já notou que o beija-flor deixou de ser um beija-flor? Que ele se transformou num abutre? Vá diante de um espelho. Olhe-se com atenção. Veja a que lixo você foi reduzido!
O caminho em que você está tem apenas três fins possíveis.
O primeiro deles, o melhor, o que tem menos sofrimento, é a morte.
Ah! Ellis Regina! Você cantava tão bonito! Alegria para tanta gente! Mas as alegrias comuns da vida não lhe bastaram! Você queria alegrias maiores! Afinal de contas, os artistas bem que a merecem! Não sei se foi acidente ou se foi de propósito. O fato é que o beija-flor a matou.
Ah! Chet Baker! Você não sabe quem é Chet Baker? Aconselho-o a ir a uma loja de CDs e procurar por ele. Você vai ouvir o pistão mais veludo, mais suave, mais triste, mais bonito que você já ouviu. Que felicidade poder tocar pistão daquele jeito! Que felicidade ser amado do jeito como ele era, pela música que ele fazia. Mas ele não suportou as exigências do beija-flor que já havia se apossado do seu corpo. Incapaz de quebrar as correntes, ele achou que o único caminho era morrer. Somente a morte colocaria um fim ao seu sofrimento. A morte, frequentemente, é a única saída.
O outro caminho é a loucura. O seu "hardware" e o seu "software" não aguentam a luta e você enlouquece. Será que há situações em que a pessoa deseja ficar louca? Sei que há situações em que a gente deseja ficar doente. Doente, a gente deixa de ter responsabilidades. Os outros cuidam da gente. Se você ficar louco não adianta o beija-flor vir. Os outros não vão deixar que ele entre. Dói muito a princípio. Se você não estivesse louco você deixaria que o abutre comesse mais um pedaço do seu fígado. Mas você está louco. Os médicos e enfermeiros o defendem.
O último caminho, eu acho, é o mais terrível. Por causa do beija-flor-abutre você é capaz de fazer qualquer coisa. E você vai entrando cada vez mais fundo num mundo sinistro e escuro do qual é muito difícil sair. Até que você comete um crime que o levará à prisão. Aí você passará a sua vida atrás das grades, no meio de criminosos cruéis - e você nem imagina a que humilhações você será submetido.
Essa carta, eu a escrevo admitindo a hipótese de que você queira quebrar as correntes. Se você não quer nem precisa continuar a ler. Será uma perda de tempo.
Há uma coisa que recebe o nome de "síndrome de abstinência": ela é a dor que se sente na ausência do beija-flor-abutre. É dor física, é ansiedade, é angústia, é pânico, é desespero - tudo junto. Para se livrar dessa dor você será capaz de fazer qualquer coisa: você perde a razão. Aí, para que você não faça essa "qualquer coisa", pessoas que o amam - se é que elas existem - tomam uma providência: internam você numa clínica. Internação em clínica é um artifício de força a que se recorre para impedir que você faça a tal "qualquer coisa", na esperança de que, depois de muito sofrimento, a dor vá passando e as correntes fiquem mais fracas. De fato, com o tempo, as dores passam. Como passam também as dores que se tem quando uma pessoa querida morre. Com uma diferença: quem sofre a perda de uma pessoa amada sabe que não há nada que se possa fazer para que ela volte. Então, ela nem tenta. Convive com a sua dor. Não há outra alternativa.
Mas esse não é o seu caso. O buraco parou de doer. Mas ele continua lá. Continuam as memórias das experiências divinas. E as memórias tentam. Ah! Como tentam! E você diz: "Já estou livre! Só uma vez! Só uma última vez, vez de despedida. Não haverá outra..."
Jesus era sábio. Conhecia as armadilhas da alma. Contou uma parábola, a estória de uma casa onde morava um demônio. Aí o dono da casa ficou cheio com o demônio e o pôs para fora. Vazia a casa, ele a varreu, pintou e decorou. Mas ficou vazia. Passados uns dias o tal demônio, vagando pelas redondezas, passou pela casa onde morara e se surpreendeu: "Vazia! Ainda não tem morador!" Foi, chamou outros sete demônios e se alojaram na casa. Jesus termina a parábola dizendo que o estado da casa ficou então pior do que era antes. Os demônios moram no Vazio.
Passadas as dores da "síndrome de abstinência" o seu maior inimigo será o Vazio. Como diziam os filósofos antigos, a natureza não suporta o vazio. O vácuo "chupa" o que está ao seu redor. Com o que concordam os que conhecem a alma: o Vazio é o lugar preferido dos demônios. Esta é a razão por que os místicos iam para o deserto, onde não havia ninguém. Não para ter paz. Mas para medir forças com os demônios. "E Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser testado pelo demônio."
Agora, que você está livre da "síndrome de abstinência", trate de encher o seu Vazio. Se você não o encher os demônios voltarão.
Pra lidar com o Vazio nada melhor que trabalho corporal, braçal. As atividades intelectuais e espirituais, que eu tanto amo, podem ser perigosas. Leitura, poesia, meditação, são remédios fracos. Fracos porque eles são vizinhos do mundo do beija-flor. Atividades intelectuais e espirituais frequentemente têm efeitos parecidos com os das drogas. Marx estava certo quando comparou a religião ao ópio. Freud estava certo quando se referiu ao poder inebriante da música. Inebriante: que nos torna ébrios...
Aconselho que você se empregue numa oficina mecânica, numa construtora, como auxiliar de pedreiro, numa madeireira, numa carpintaria, como agricultor, como jardineiro, como enfermeiro, como lixeiro. Será inútil que você se dedique aos seus próprios hobbies. Você precisa de alguém, ligado aos trabalhos corporais, que saiba da sua situação, e que o aceite como aprendiz.
E é preciso não estar sozinho. Batalha que se batalha sozinho é batalha perdida. Batalha que se batalha com outros é batalha que pode ser ganha. Os AA sabem disso. Os Vigilantes do Peso sabem disso.
A vida, com todas as suas limitações e frustrações, merece ser vivida. Às margens do caminho esburacado há morangos que podem ser colhidos e comidos. Trate de viver. Trate de comer os morangos. Esforce-se por ser feliz!
Crack e dependência |
Em debate sobre drogadição, vice-presidente do Cremesp defende que a dignidade do indivíduo em tratamento "jamais deve ser ferida" |
Por: Ivolethe Duarte/Fotos: Beatriz Machado |
Oh ! Espírito de Deus, preenche-me na minha alma.
Presenteie a minha alma com a força da fortaleza
Força da fortaleza também a meu coração.
A meu coração que Te procura
Te procura em profundo anseio.
Profundo anseio por saúde.
Por saúde e a força da coragem.
Força da coragem que flui nos meus membros.
Flui como um presente puro de Deus.
Presente de Deus de ti, oh! Espírito de Deus.
Oh Espírito de Deus, preenche-me.
Rudolf Steiner
Presenteie a minha alma com a força da fortaleza
Força da fortaleza também a meu coração.
A meu coração que Te procura
Te procura em profundo anseio.
Profundo anseio por saúde.
Por saúde e a força da coragem.
Força da coragem que flui nos meus membros.
Flui como um presente puro de Deus.
Presente de Deus de ti, oh! Espírito de Deus.
Oh Espírito de Deus, preenche-me.
Rudolf Steiner
Introdução
Certos comportamentos, como mentir e matar aula, podem ser observados no curso do desenvolvimento normal de crianças e adolescentes. Para diferenciar normalidade de psicopatologia, é importante verificar se esses comportamentos ocorrem esporadicamente e de modo isolado ou se constituem síndromes, representando um desvio do padrão de comportamento esperado para pessoas da mesma idade e sexo em determinada cultura.
A literatura internacional aborda o tema do comportamento anti-social sob diferentes pontos de vista, levando em conta os aspectos legais (criminologia) e psiquiátricos. Do ponto de vista legal, a delinqüência implica em comportamentos que transgridem as leis. No entanto, como nem todas as crianças ou jovens anti-sociais transgridem as leis, o termo delinqüente ficou restrito aos menores infratores (definição legal). Os atos anti-sociais relacionados aos transtornos psiquiátricos são mais abrangentes e se referem a comportamentos condenados pela sociedade, com ou sem transgressão das leis do Estado.1
Com base em critérios diagnósticos internacionais, como os da última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV2), observa-se que o comportamento anti-social persistente faz parte de alguns diagnósticos psiquiátricos. O transtorno da conduta (conduct disorder) e o transtorno desafiador de oposição (oppositional defiant disorder) são categorias diagnósticas usadas para crianças e adolescentes, enquanto o transtorno de personalidade anti-social (antisocial personality disorder) aplica-se aos indivíduos com 18 anos ou mais.
No presente artigo, serão apresentadas as principais características do transtorno da conduta, enfatizando seu diagnóstico, evolução e tratamento. Destacaremos os fatores associados ao comportamento anti-social na infância e adolescência com o objetivo de ampliar a visão do profissional de saúde mental sobre a família e a comunidade nas quais o paciente está inserido.
Transtorno da conduta
O transtorno da conduta é um dos transtornos psiquiátricos mais freqüentes na infância e um dos maiores motivos de encaminhamento ao psiquiatra infantil.3 Lembramos que o transtorno da conduta não deve ser confundido com o termo "distúrbio da conduta", utilizado no Brasil de forma muito abrangente e inespecífica para nomear problemas de saúde mental que causam incômodo no ambiente familiar e/ou escolar. Por exemplo, crianças e adolescentes desobedientes, com dificuldade para aceitar regras e limites e que desafiam a autoridade de pais ou professores costumam ser encaminhados aos serviços de saúde mental devido a "distúrbios da conduta". No entanto, os jovens que apresentam tais distúrbios nem sempre preenchem critérios para a categoria diagnóstica "transtorno da conduta". Portanto, o termo "distúrbio da conduta" não é apropriado para representar diagnósticos psiquiátricos.
No Canadá, o transtorno da conduta atinge 5,5% dos indivíduos da população geral com idade entre 4-16 anos, com taxas variando de 1,8% (meninas de 4-11 anos) a 10,4% (meninos de 12-16 anos). O transtorno da conduta é mais freqüente no sexo masculino, independentemente da idade, e mais freqüente em crianças maiores (12-16 anos) comparadas às menores (4-11 anos), independentemente do sexo.4,5
Diagnóstico
Na base do transtorno da conduta está a tendência permanente para apresentar comportamentos que incomodam e perturbam, além do envolvimento em atividades perigosas e até mesmo ilegais. Esses jovens não aparentam sofrimento psíquico ou constrangimento com as próprias atitudes e não se importam em ferir os sentimentos das pessoas ou desrespeitar seus direitos. Portanto, seu comportamento apresenta maior impacto nos outros do que em si mesmo. Os comportamentos anti-sociais tendem a persistir, parecendo faltar a capacidade de aprender com as conseqüências negativas dos próprios atos.1
O quadro clínico do transtorno da conduta é caracterizado por comportamento anti-social persistente com violação de normas sociais ou direitos individuais. Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da conduta incluem 15 possibilidades de comportamento anti-social: (1) freqüentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros; (2) freqüentemente inicia lutas corporais; (3) já usou armas que podem causar ferimentos graves (pau, pedra, caco de vidro, faca, revólver); (4) foi cruel com as pessoas, ferindo-as fisicamente; (5) foi cruel com os animais, ferindo-os fisicamente; (6) roubou ou assaltou, confrontando a vítima; (7) submeteu alguém a atividade sexual forçada; (8) iniciou incêndio deliberadamente com a intenção de provocar sérios danos; (9) destruiu propriedade alheia deliberadamente (não pelo fogo); (10) arrombou e invadiu casa, prédio ou carro; (11) mente e engana para obter ganhos materiais ou favores ou para fugir de obrigações; (12) furtou objetos de valor; (13) freqüentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais (início antes dos 13 anos); (14) fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora, enquanto morava com os pais ou pais substitutos (ou fugiu de casa uma vez, ausentando-se por um longo período); e (15) falta na escola sem motivo, matando aulas freqüentemente (início antes dos 15 anos). Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da conduta aplicam-se a indivíduos com idade inferior a 18 anos e requerem a presença de pelo menos três desses comportamentos nos últimos 12 meses e de pelo menos um comportamento anti-social nos últimos seis meses, trazendo limitações importantes do ponto de vista acadêmico, social ou ocupacional.2
Diagnósticos diferenciais incluem os transtornos reativos a situações de estresse e comportamento anti-social decorrente de quadros psicóticos (por exemplo, episódio maníaco).2 Crianças vítimas de violência doméstica podem apresentar comportamentos anti-sociais como reação a situações de estresse e adolescentes em episódio maníaco podem furtar, falsificar assinaturas em cheques ou provocar brigas com luta corporal em decorrência da exaltação do humor e não devido a transtorno da conduta.
Curso e prognóstico
Os sintomas do transtorno da conduta surgem no período compreendido entre o início da infância e a puberdade e podem persistir até a idade adulta.3 Quando iniciam-se antes dos 10 anos, observa-se com maior freqüência a presença de transtorno com déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), comportamento agressivo, déficit intelectual, convulsões e comprometimento do sistema nervoso central devido a exposição a álcool/drogas no período pré-natal, infecções, uso de medicamentos, traumas cranianos, etc., além de antecedentes familiares positivos para hiperatividade e comportamento anti-social.6 O início precoce indica maior gravidade do quadro com maior tendência a persistir ao longo da vida.6
O transtorno da conduta está freqüentemente associado a TDAH (43% dos casos) e a transtornos das emoções (ansiedade, depressão, obsessão-compulsão; 33% dos casos).7 A comorbidade com o TDAH é mais comum na infância, envolvendo principalmente os meninos, enquanto a comorbidade com ansiedade e depressão é mais comum na adolescência, envolvendo principalmente as meninas após a puberdade.
Comportamentos anti-sociais mais graves (por exemplo, brigas com uso de armas, arrombamentos, assaltos) costumam ser antecedidos por comportamentos mais leves (por exemplo, mentir, enganar, matar aulas, furtar objetos de pouco valor) e, ao longo do tempo, observa-se o abuso de álcool/drogas, principalmente no sexo masculino8 e os quadros de ansiedade e depressão, principalmente no sexo feminino.9,10
O transtorno da conduta está freqüentemente associado a baixo rendimento escolar e a problemas de relacionamento com colegas, trazendo limitações acadêmicas e sociais ao indivíduo.11,12 São freqüentes os comportamentos de risco envolvendo atividades sexuais, uso de drogas e até mesmo tentativas de suicídio. O envolvimento com drogas e gangues pode iniciar o jovem na criminalidade. Na fase adulta, notam-se sérias conseqüências do comportamento anti-social, como discórdia conjugal, perda de empregos, criminalidade, prisão e morte prematura violenta.2,13,14
A persistência de comportamentos anti-sociais no decorrer da adolescência e da vida adulta encontra-se favorecida em determinadas circunstâncias: quando o transtorno da conduta tem início precoce; quando tipos variados de comportamentos anti-sociais estão presentes, incluindo os agressivos e violentos; quando os comportamentos anti-sociais são bastante freqüentes; quando são observados em diversos ambientes (por exemplo, familiar e escolar); e quando o transtorno da conduta está associado ao TDAH.15
Eventos de vida podem favorecer a persistência do comportamento anti-social na adolescência e idade adulta. O ambiente escolar, dependendo de suas características, pode incentivar ou desestimular o comportamento anti-social. Já a falta de emprego é uma situação de estresse que o estimula, enquanto o casamento harmonioso com pessoa sem alterações de comportamento tende a diminuí-lo.10
Ao mesmo tempo em que crianças com comportamento anti-social tendem a permanecer anti-sociais na idade adulta, adultos anti-sociais tendem a ter filhos com comportamento anti-social (pais servem de modelo aos filhos), estabelecendo-se um ciclo de difícil interrupção.16
Fatores associados ao comportamento anti-social
O comportamento anti-social de crianças e adolescentes tem sido atribuído a fatores constitucionais e ambientais. Historicamente, foi com o estabelecimento de clínicas vinculadas ao juizado de menores que profissionais de saúde mental puderam observar o desenvolvimento do comportamento anti-social na infância e adolescência. Ao constatar-se a grande freqüência de problemas familiares e sociais na história de vida dos delinqüentes juvenis, formulou-se a hipótese de uma reação às adversidades encontradas tanto no ambiente familiar como na comunidade.8
Segundo Winnicott,17 quando crianças sofrem privação afetiva, manifestam-se os comportamentos anti-sociais no lar ou numa esfera mais ampla. Do ponto de vista psicodinâmico, estes comportamentos demonstram esperança em obter algo bom que foi perdido, sendo a ausência de esperança a característica básica da criança que sofreu privação. O jovem experimenta um impulso de busca do objeto, de alguém que possa encarregar-se de cuidar dele, esperando poder confiar num ambiente estável, capaz de suportar a tensão resultante do comportamento impulsivo. O ambiente é repetidamente testado em sua capacidade para suportar a agressão, tolerar o incômodo, impedir a destruição, preservando o objeto que é procurado e encontrado.17
São fatores associados a comportamento anti-social na infância: ser do sexo masculino, receber cuidados maternos e paternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, ser criado por pais agressivos e violentos, ter mãe com problemas de saúde mental, residir em áreas urbanas e ter nível socioeconômico baixo.12,18,19
Alguns autores referem que a baixa renda associada ao comportamento anti-social da criança está relacionada à personalidade anti-social materna20,21 e à negligência por parte dos pais.22 De fato, pode-se supor que mães anti-sociais teriam maior dificuldade para atingir níveis de renda mais elevados, pois não manter-se-iam no emprego e teriam menor condição de manter um relacionamento estável com um marido ou companheiro que contribuísse com a renda familiar. Pais anti-sociais também são freqüentemente irresponsáveis e negligentes com seus filhos, deixando de alimentá-los adequadamente ou levá-los ao médico quando doentes. Além disso, adolescentes vivendo na pobreza e pouco valorizados pelos pais podem buscar reconhecimento pessoal e ascensão econômica através de atividades delinqüenciais grupais.23
Quanto à discórdia conjugal e a problemas mentais maternos, Shaw e Emery18 demonstraram que o conflito entre os pais e a depressão materna estavam associados a comportamentos agressivos e anti-sociais em escolares. No entanto, é preciso considerar a contribuição da criança para a qualidade do relacionamento entre pais e filhos, pois crianças difíceis de lidar, desobedientes e agressivas favorecem a desorganização do ambiente familiar e o desequilíbrio de um relacionamento conjugal mais frágil.1
Quanto ao ambiente familiar agressivo e violento, não se pode deixar de mencionar a influência da violência doméstica e do abuso físico sobre o comportamento anti-social na infância. Taxa elevada de comportamento anti-social (21%) foi observada em filhos (idade escolar) de mulheres espancadas.24 Em Khartoum, Sudão, crianças submetidas à punição corporal grave (corda ou vara) apresentaram mais problemas de comportamento (40,2%) que crianças punidas somente com palmadas (24,6%).25 Estudos que avaliaram os efeitos do abuso físico a longo prazo demonstraram que indivíduos que sofreram abuso ou negligência na infância tiveram maior probabilidade de cometer crimes.26,27 No entanto, a grande maioria das crianças que sofreram abuso (74%) ou negligência (90%) não se tornaram delinqüentes, nem cometeram crimes violentos.27
Fatores genéticos e neurofisiológicos também podem estar envolvidos no desenvolvimento do comportamento anti-social.1 Mednik et al28 relataram maior taxa de criminalidade nos pais biológicos que nos pais adotivos de indivíduos com antecedentes criminais, formulando a hipótese de uma predisposição biológica para o comportamento anti-social. A influência genética é mais evidente nos casos acompanhados de hiperatividade e pode ser responsável pela maior vulnerabilidade do indivíduo aos eventos de vida e ao estresse.29 No entanto, o papel dos fatores genéticos no transtorno da conduta ainda precisa ser melhor esclarecido.
Finalmente, há indícios de diferenças nos fatores de risco para o comportamento anti-social segundo o sexo do indivíduo.15,29 Em levantamento populacional realizado no Canadá, envolvendo 1.651 indivíduos com 16 a 24 anos, verificou-se que além da presença de comportamentos anti-sociais antes dos 15 anos, outros fatores foram considerados de risco para comportamento anti-social na adolescência e início da vida adulta. Para os homens, foi fator de risco o fato de ter convivido na infância com pais com problemas de saúde mental (depressão, mania, episódios psicóticos), enquanto para as mulheres, destacaram-se o abuso sexual na infância e o fato de ter sido criada por pais com comportamento anti-social ou abuso de álcool/drogas.15
Tratamento
Os tratamentos citados na literatura são bastante variados, incluindo intervenções junto à família e à escola (por exemplo, psicoterapia familiar e individual, orientação de pais, comunidades terapêuticas e treinamento de pais e professores em técnicas comportamentais). Apesar de nenhum deles ser muito eficaz, principalmente como intervenção isolada, quanto mais precocemente iniciados e quanto mais jovem o paciente, melhores os resultados obtidos.29 Salienta-se a importância das intervenções concomitantes e complementares a longo prazo.
Na faixa etária dos três aos oito anos, alguns sintomas do transtorno desafiador de oposição (por exemplo, irrita-se com facilidade, recusa-se a cumprir regras ou atender solicitações dos adultos, perturba as pessoas deliberadamente) ou do transtorno da conduta (por exemplo, fere animais, furta) costumam ser identificados, merecendo ações preventivas junto à criança e aos seus pais e professores. Muitas vezes, o foco do problema está no conflito entre pais e filhos. Outras vezes, os pais estão demasiadamente envolvidos com problemas pessoais e necessitam de apoio. Alguns pais precisam de ajuda para estabelecer limites e escolher métodos mais apropriados para educar os filhos. O contato com a escola também pode ser útil para resolver conflitos entre professores e alunos e ajudar os professores a encontrar maneiras mais adequadas de lidar com as dificuldades da criança.
Quanto mais jovem o paciente e menos graves os sintomas, maior a probabilidade do indivíduo se beneficiar de uma psicoterapia. Quando trata-se de adolescente que já cometeu delitos, observa-se maior resistência à psicoterapia, podendo ser útil o envolvimento com profissionais especializados no manejo de jovens anti-sociais através de oficinas de artes, música e esportes. Nessas oficinas, o adolescente tem a oportunidade de estabelecer vínculo afetivo com os profissionais responsáveis pelas atividades, tomando-os como modelo, além de perceber-se capaz de criar, o que favorece o desenvolvimento da auto-estima. Sempre que possível, a família dos pacientes deve ser incluída no processo terapêutico, lembrando que muitas vezes os pais necessitam de tratamento psiquiátrico (por exemplo, abuso de drogas).
O tratamento com psicofármacos faz-se necessário em algumas situações nas quais os sintomas-alvo (por exemplo, idéias paranóides associadas à agressividade, convulsões) ou outros transtornos psiquiátricos (por exemplo, TDAH, depressão) estão presentes. Recomendamos cautela no uso de neurolépticos para o tratamento da agressividade, pois os riscos podem superar os benefícios.6
A hospitalização está indicada em casos de risco iminente para o paciente (por exemplo, suicídio, auto-agressão) ou para os demais (por exemplo, homicídio). Sempre que possível, optar por intervenções menos restritivas (por exemplo, hospital-dia).6
Em nosso meio, muitas vezes não dispomos dos recursos necessários para o tratamento da criança ou adolescente com comportamento anti-social. Quando esses recursos existem, nem sempre as famílias têm condições de comparecer ao serviço na freqüência recomendada. O profissional de saúde mental pode ser útil estabelecendo prioridades entre as diversas condutas terapêuticas possíveis e recomendando ao paciente aquela que julgar mais imprescindível.
Conclusão
Comportamentos anti-sociais são freqüentemente observados no período da adolescência como sintomas isolados e transitórios. Porém, estes podem surgir precocemente na infância e persistir ao longo da vida, constituindo quadros psiquiátricos de difícil tratamento. Fatores individuais, familiares e sociais estão implicados no desenvolvimento e na persistência do comportamento anti-social, interagindo de forma complexa e ainda pouco esclarecida. Como o comportamento anti-social torna-se mais estável e menos modificável ao longo do tempo,30 crianças e adolescentes com transtorno da conduta precisam ser identificados o mais cedo possível para que tenham maior oportunidade de beneficiar-se de intervenções terapêuticas e ações preventivas. O tratamento mais efetivo envolve a combinação de diferentes condutas junto à criança/adolescente, à família e à escola. Quando não é possível o acesso a intervenções complementares, o profissional de saúde mental deve identificar a conduta terapêutica prioritária em cada caso específico.
Referências
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