SÍNDROME DE RETT

  É uma desordem do desenvolvimento neurológico, relativamente rara.
 
A prevalência da Síndrome de Rett é de uma em cada 10.000-20.000 pessoas do sexo feminino.

  A CADA 5 HORAS, NASCE UMA MENINA COM SÍNDROME DE RETT NO MUNDO


A Síndrome de Rett é uma doença de causa genética e está associada a mutações no gene MECP2 (do inglês, methyl-CpG-binding protein 2), localizado no cromossomo X.
O MECP2 é de extrema importância no controle de outros genes, e a proteína por ele codificada (também chamada de MeCP2) atua como que “desligando” determinados genes durante fases específicas do desenvolvimento neuronal.
A base molecular da Síndrome de Rett consiste no fato de o gene MECP2 mutado codificar uma proteína defeituosa, incapaz de exercer adequadamente sua função biológica, o que faz com que os genes que deveriam estar silenciados (“desligados”) durante determinadas fases do desenvolvimento dos neurônios permaneçam ativos (“ligados”), resultando em prejuízos ao desenvolvimento do sistema nervoso central.
Cerca de 99,5% dos casos de Síndrome de Rett são esporádicos, ou seja, sem antecedentes familiares. A análise da origem parental (dos pais) nos casos esporádicos revelou que, na maioria deles, as mutações ocorreram de novo no alelo de origem paterna. Isso explicaria a predominância de Síndrome de Rett clássica em meninas, já que os meninos não herdam o cromossomo X paterno, mas sim o materno.
Por outro lado, nos raros casos familiais (somente 0,5%), o alelo mutado é proveniente da mãe, que não apresenta o quadro clínico de Síndrome de Rett. Esses casos poderiam ser explicados: (1) pela inativação favorável do cromossomo X da mãe que tem a mutação; ou (2) pela ocorrência de mosaicismo gonadal, quando o alelo mutado é encontrado apenas nas células da linhagem germinativa materna.
Através da análise molecular do gene MECP2 da paciente e de sua mãe, é possível verificar se a mutação foi herdada da mãe, para, assim, procurar aconselhamento genético. Embora os casos familiais sejam raros, é indicado avaliar a possibilidade de recorrência da doença na família, inclusive utilizando-se o diagnóstico pré-natal, que envolve a coleta de material biológico do feto pela amniocentese ou pela punção de vilosidades coriônicas e pesquisa de mutações no MECP2 nesse material.
 
  SÍNDROME DE RETT EM MENINOS
Com base principalmente em estudos com modelos animais, considerava-se que mutações no gene MECP2 eram sempre letais (provocando aborto) ou causavam morte prematura no sexo masculino (cariótipo 46,XY). No entanto, diversos casos de meninos com características da SR clássica foram relatados na literatura científica. Hoje sabemos que meninos também podem manifestar o quadro de SR, o que e tem sido observado em três situações:
(1) indivíduos com cariótipo 47,XXY (que caracteriza a Síndrome de Klinefelter, ou seja, há um X a mais do que o normal para o sexo masculino), com o alelo mutado do gene MECP2 em um dos cromossomos X, podem apresentar quadro clínico compatível com a Síndrome de Rett clássica;
(2) mosaicismo somático, caso em que algumas das células somáticas do indivíduo apresentam um alelo mutado e outras não;
(3) indivíduos com cariótipo típico para o sexo masculino (46,XY) e que apresentam mutações no MECP2. Nesse caso, uma vez que não há uma cópia normal do gene para contrabalançar o alelo mutado, os sintomas são mais severos, dependendo do tipo e do local da mutação no MECP2.
Além disso, devido ao seu amplo espectro fenotípico, mutações no gene MECP2 em meninos podem levar também a quadros como encefalopatia neonatal e retardo mental não especificado.
            
 
A SOBREVIDA DE PACIENTES COM A SÍNDROME DE RETT
Grande parte das pacientes com Síndrome de Rett vivem até a quinta ou sexta década de vida, e geralmente com deficiências bastante graves.
As taxas de sobrevida podem declinar em pacientes com Síndrome de Rett com mais de 10 anos de idade, embora 70% delas atinjam os 35 anos de idade (uma sobrevida muito maior do que em outros pacientes com deficiência mental profunda, dos quais apenas 27% atingem os 35 anos de idade).
A morte dessas pacientes geralmente é secundária a um quadro de pneumonia, e não são raras as mortes súbitas.
 
 OS PRIMEIROS SINAIS DA MANIFESTAÇÃO CLÍNICA DA SÍNDROME DE RETT INCLUEM:

- Irritabilidade geralmente crescente ao longo de um período determinado, representada por crises de choro inconsolável.
- Estabilização (parada) na aquisição de habilidades motoras (incluindo a fala).
- Perda óbvia das habilidades motoras finas, representadas pela falta de uso prático das mãos para, por exemplo, manipular brinquedos e quaisquer outros objetos.
- Nesse período, as meninas também podem apresentar menos interesse pelo ambiente que a rodeia e pela socialização e interação com os outros. Em alguns casos, elas podem interagir de uma forma “autista”, motivo pelo qual muitas recebem esse diagnóstico, erroneamente, no início da manifestação da doença.
- Outros elementos comunicativos também são perdidos nessa fase, e há muitas meninas que parecem não estar escutando o que é dito, mesmo quando apresentam audição normal e preservada confirmada por avaliações pertinentes.
- No período que segue após a perda das habilidades motoras e as alterações nos processos de comunicação e socialização, surgem os movimentos estereotipados das mãos, “marca registrada” da forma clássica da doença. Esses movimentos se manifestam de forma diferente em cada menina, mas, geralmente, são movimentos como: lavar ou torcer as mãos, bater as mãos uma na outra, apertar ou bater as mãos ou uma delas em alguma outra parte do corpo (geralmente a boca), levar às mãos à boca, ou levar parte da roupa à boca e ficar mordiscando. Esses movimentos estereotipados ocorrem geralmente, mas não obrigatoriamente, na linha média do corpo. Em muitos casos, esses movimentos não ocorrem com as mãos juntas. Cada menina desenvolve o seu repertório próprio de movimentos estereotipados que, ao longo do tempo, mostram um padrão evolucionário na mesma menina. Esses movimentos estereotipados das mãos só ocorrem nos períodos em que a pessoa está acordada, mas são, no geral, movimentos incessantes. Esses movimentos tendem a exacerbar (ou ficar mais intensos e repetitivos) em situações de estresse ou excitação. Quando se restringem as mãos, é usual observar movimentos similares realizados com os pés, ou mesmo movimentos estereotipados envolvendo a musculatura orofacial.

- Cerca de 80% das meninas com Síndrome de Rett chegam a aprender a andar, mas sua marcha se torna dispráxica (ou sem função, sem destino intencional), uma vez que o caráter funcional e voluntário da marcha diminui a princípio para, depois, ser definitivamente perdido em parte importante dos casos. Em última estância, quando preservada, a marcha é realizada com base alargada e sem qualquer função. A marcha também pode ser ocasionalmente caracterizada por "andar nas pontas dos pés", "dar o primeiro passo para trás", ou "transferir o peso de um pé para o outro repetidamente".
- Todas as meninas com a Síndrome de Rett apresentam deficiência mental severa a profunda. Estudos nacionais e internacionais reportam que o desenvolvimento intelectual dessas meninas atinge, no máximo, o equivalente ao desenvolvimento intelectual de uma criança de 24 meses com desenvolvimento normal. Tendo em vista todas as dificuldades motoras presentes na Síndrome de Rett, é bastante difícil avaliar o desenvolvimento intelectual com os testes disponíveis (que requerem, minimamente, o uso prático das mãos ou linguagem preservada).

Ao longo do tempo, uma série de outras características vem sendo associada com a Síndrome de Rett, mas esses comportamentos não são observados de modo tão uniforme, e incluem:

- Bruxismo (ou ranger de dentes, que pode ocorrer também de forma estereotipada).
- Distúrbios de sono.
- Padrões respiratórios anormais. Esses padrões respiratórios anormais geralmente se referem à apneia (ou uma parada na respiração, que às vezes pode durar muitos segundos), à hiperventilação (respiração rápida, com grande quantidade de ar inspirado) ou a ambas e, tal qual os movimentos estereotipados das mãos, só são observados nos períodos em que a pessoa está acordada. Também como ocorre com as estereotipias manuais, as anormalidades respiratórias podem ser pioradas em situações de estresse e de grande excitação.
- Um número importante de meninas com Síndrome de Rett desenvolve escoliose que, em muitos casos, requer correção cirúrgica.

- Também são observadas algumas características autonômicas que incluem:
- Refluxo gastroesofágico.
- Dismotilidade intestinal (ou falta dos movimentos intestinais adequados), que resulta em constipação severa.
- Hipotermia (ou baixa temperatura).
- Extremidades arroxeadas, mais comuns nas extremidades inferiores (pés) do que nas superiores (mãos).
- Alterações eletrocardiográficas.

- Crises convulsivas são muito frequentes nas pessoas com Síndrome de Rett. No entanto, apenas 20%-25% delas parecem de fato apresentar quadro epiléptico passível de tratamento medicamentoso com anticonvulsivantes.


 
  MUITAS VEZES, APNEIAS INTENSAS PODEM CAUSAR CRISES DE AUSÊNCIA QUE, NA VERDADE, NÃO SÃO CRISES EPILÉPTICAS. ESSAS CRISES DEVEM SER BASTANTE BEM DIFERENICADAS ANTES DA PRESCRIÇÃO DE MEDICAÇÕES ANTICONVULSIVANTES, JÁ QUE MUITOS DESSES MEDICAMENTOS PODEM PIORAR AS APNEIAS, CRIANDO-SE, ASSIM, UM CÍRCULO VICIOSO DE DIFÍCIL SOLUÇÃO.
Diagnóstico Clínico

O diagnóstico da Síndrome de Rett, especialmente em sua forma clássica (explicada mais adiante), ainda é eminentemente clínico, ou seja, o exame laboratorial para pesquisa do MECP2 ou de alterações em outros genes ainda em estudo só tem valor de fato diagnóstico nas formas não clássicas da doença.
Os critérios específicos para o diagnóstico da Síndrome de Rett vêm sendo propostos ao longo das últimas quase três décadas. O consenso mundial mais recente publicado por Hagberg et al. em 2002 tem permitido que esse diagnóstico seja realizado em todo o mundo de uma maneira mais padronizada, a saber:

CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE SÍNDROME DE RETT

Hagberg B, Hanefeld F, Percy A, Skjeldal O. Na update on clinically applicable diagnostic criteria in Rett syndrome. Comments to Rett Syndrome Clinical Criteria Consensus Satellite to European Pediatric Neurology SOciety Meeting. Baden Baden, Germany. 11 Sptember 2001. European Journal of Neurology 2002; 6:293-7.

• Normal ao nascimento

• Desenvolvimento precoce aparentemente normal (pode estar atrasado ao nascimento)

• Desaceleração do perímetro cefálico pós-natal

• Falta de habilidades manuais funcionais adquiridas

• Regressão psicomotora: Aparecimento de desinteresse social, disfunção comunicativa, perda de palavras aprendidas, comprometimento cognitivo

• Movimentos estereotipados das mãos: lavar, torcer, esfregar, apertar, bater as mãos / levar a(s) mão(s) à boca

• Disfunção de marcha: Locomoção prejudicada (dispráxica) ou ausente.

No mesmo consenso, também foram elaborados critérios para o diagnóstico dos padrões variantes (ou formas não clássicas da doença) de manifestações clínicas na Síndrome de Rett:

CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DE FORMAS VARIANTES DA SÍNDROME DE RETT

- Preencher pelo menos 3 dos 6 critérios maiores.
- Preencher pelo menos 5 dos 11 critérios menores.

CRITÉRIOS MAIORES

• Ausência ou redução das habilidades manuais práxicas
• Redução ou perda da fala em balbucios
• Redução ou perda das habilidades comunicativas
• Desaceleração do crescimento cefálico nos primeiros anos de vida
• Padrão monótono de estereotipias manuais
• Perfil da desordem Rett: Estágio de regressão seguido de recuperação da interação social contrastando com regressão neuromotora lenta

CRITÉRIOS MENORES

• Irregularidades respiratórias
• Distensão abdominal / Aerofagia
• Bruxismo
• Locomoção anormal
• Escoliose / cifose
• Amiotrofia dos membros inferiores
• Contato visual intenso
• Resposta diminuída para dor
• Episódios de risadas / gritos
• Hipotermia, pés arroxeados, crescimento (usualmente) comprometido
• Distúrbios de sono, incluindo episódios de terrores noturnos

Formas variantes ou atípicas de Síndrome de Rett incluem:
- Manifestação precoce de tipo epiléptico.
- Uma forma congênita em que pode não se observar desenvolvimento precoce normal.
- Uma variante com fala preservada em que alguma linguagem funcional é mantida.
- Manifestação tardia dos sinais e sintomas, também chamada de foram frustra.

As meninas com Síndrome de Rett apresentam padrão bastante consistente de evolução na manifestação de seus sinais clínicos:

1
Desenvolvimento precoce aparentemente normal.
2
Parada no progresso do desenvolvimento.
3
Franca regressão com contato social pobre e habilidades manuais prejudicadas.
4
Estabilização: Melhor contato social e melhor fixação de olhar, mas com redução gradual das funções motoras.

Após período precoce de regressão, o desenvolvimento parece estabilizar (não avança, mas não regride), embora haja evidente melhora na interação e na socialização, particularmente no que se refere a escolhas, assim como também melhora o contato visual.

Por outro lado, é também após esse período de regressão que podem aparecer as convulsões e que podem se intensificar as anormalidades respiratórias, que atingem o seu ponto máximo na idade escolar, até que se atinja a adolescência.

A partir dessa fase da vida, atividades motoras como as estereotipias manuais se tornam menos frequentes, e sua manifestação geral parece ser reduzida.

O fato de não haver mais perdas cognitivas a partir daí é o que fundamenta fortemente a importância de terapias continuadas que otimizem as capacidades comunicativas e de socialização e que preservem as funções motoras.


 
  ATENÇÃO: No estágio inicial da doença, a Síndrome de Rett pode ter seu diagnóstico clínico dificultado, principalmente considerando que muitos médicos ainda não estão suficientemente familiarizados com essa condição. Estima-se que, em cerca de 50% das meninas brasileiras afetadas pela Síndrome de Rett, o diagnóstico clínico seja equivocado. O diagnóstico equivocado de grande parte dessas meninas se refere ao Autismo Infantil, e outra parte, à Paralisia Cerebral ou condições afins. Já foram descritos diversos casos de pacientes clinicamente diagnosticadas com Síndrome de Angelman nas quais não foram detectadas alterações no cromossomo 15 (que é a causa dessa outra síndrome), mas foram detectadas mutações no gene MECP2 

OS CASOS FAMILIARES SÃO EXTREMAMENTE RAROS NA SÍNDROME DE RETT.
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  IMPORTANTE:

- O exame para Pesquisa Molecular de Síndrome de Rett ainda não é disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Para que se reverta essa situação, a atuação da Associação Brasileira de Síndrome de Rett – Abre-Te/SP, enquanto representação da sociedade civil, é essencial. Mas essa atuação depende do com-promisso dos associados e interessados pela causa com a Abre-Te/SP.

- Em tese, os convênios médicos não podem negar a cobertura dos custos da Pesquisa Molecular de Síndrome de Rett. Em caso de recusa, procure a Defensoria Pública de sua cidade, o PROCON ou um advogado de sua confiança.

- Alguns convênios exigem o código CID-10 (Classificação Internacional das Doenças) para Síndrome de Rett ou o código AMB (Associação Médica Brasileira) para o procedimento (no caso, a Pesquisa Molecular para Síndrome de Rett)

Código CID-10 para a Síndrome de Rett: F-84.2

Código AMB para a Pesquisa Molecular para Síndrome de Rett: Esse procedimento ainda não está codificado pela AMB, e essa codificação depende da solicitação da classe médica. Sugere-se a utilização do seguinte código:

40503062: Análise de DNA por sonda, ou PCR por lócus, por amostra (é o que mais se aproxima à Pesquisa Molecular para Síndrome de Rett).Até este momento, a Síndrome de Rett é uma condição para a qual ainda não há cura ou tratamento para as manifestações clínicas subjacentes. No entanto, há muitas intervenções que pode ajudar essas pacientes a ter um ciclo de vida significativamente mais saudável.
A avaliação e o tratamento dessas pacientes são bastante complexos, motivo pelo qual o tratamento clínico multidisciplinar é fundamental. Como as manifestações clínicas podem ser muito diferentes de uma menina para outra em termos de intensidade e gravidade, ainda não foi possível estabelecer diretrizes consensuais para o tratamento da Síndrome de Rett.
De qualquer forma, há um protocolo médico que deve ser observado, de acordo com as necessidades de saúde de cada paciente.

- Pediatra (na infância e adolescência) e Clínico Geral (na vida adulta)

Como todas as pessoas com saúde frágil, meninas, moças e mulheres com a Síndrome de Rett devem ser sistematicamente acompanhadas por Pediatra, até a adolescência, e, depois, por um Clínico Geral. Cabe a esses médicos ter uma visão geral da saúde da pessoa com a Síndrome de Rett e saber o momento e a razão de orientar a família a buscar médicos especialistas em áreas determinadas.
Infelizmente, em nosso país e também em outros, nem Pediatras nem Clínicos Gerais (ressalvadas raríssimas e preciosas exceções) estão suficientemente familiarizados com a Síndrome de Rett, o que faz com que os Neurologistas assumam esse papel, muitas vezes de forma inadequada.
Recomenda-se acompanhamento clínico semestral do Pediatra / Clínico Geral para:
- avaliação e acompanhamento dos sinais vitais, peso, altura e índice de massa corpórea;
- controles laboratoriais, de acordo com as necessidades clínicas e com as medicações utilizadas (especialmente os anticonvulsivantes, quando utilizados);
- avaliação do desenvolvimento, que inclui a identificação de novas aquisições e a observação de perdas cognitivas;
- detecção de presença de escaras, dermatites e lesões de mucosas (especialmente nas pacientes sem marcha);
- avaliação do tônus muscular, da postura e de contraturas;
- avaliação do aparelho circulatório e respiratório;
- avaliação da desenvoltura do cuidador;
- atenção aos aspectos emocionais da família.

 
  MUITAS OCORRÊNCIAS NA SÍNDROME DE RETT SÃO ABSOLUTAMENTE CORRIQUEIRAS, E NADA TÊM A VER COM A SÍNDROME EM SI, COMO É O CASO DE UMA DIARREIA OU UMA FEBRE NA INFÂNCIA, OU DE UM CÁLCULO RENAL OU UMA VIROSE NA VIDA ADULTA.
O PEDIATRA OU O CLÍNICO GERAL TÊM QUE SABER DISCERNIR O QUE É UMA CONDIÇÃO DECORRENTE ESPECIFICAMENTE DA SÍNDROME DE RETT DO QUE É UMA OCORRÊNCIA QUE PODE AFETAR QUALQUER PESSOA.
 
 

- Neurologista

Como o diagnóstico de Síndrome de Rett ainda é essencialmente clínico, apesar de já existir a Pesquisa Molecular para Alterações no Gene MECP2, geralmente esse diagnóstico é fechado pelo Neuropediatra.
Visitas sistemáticas ao Neurologista são imperativas para o acompanhamento da evolução da pessoa com a Síndrome de Rett desde o início das manifestações da doença. A esse profissional, cabe:
- acompanhar o desenvolvimento neurológico da paciente, o que inclui a sua evolução motora (hipotonia, marcha e desenvolvimento de escoliose), sensorial e cognitiva;
- observar e medicar crises convulsivas, discernindo, inclusive, as crises decorrentes de apneias mais graves (e tentando tratá-las) das crises de fato epiléticas (saiba mais);
- observar e medicar alterações comportamentais da paciente (incluindo os distúrbios de sono e episódios de irritabilidade). Os problemas de sono, em especial, são bastante comuns em pacientes com Síndrome de Rett, e devem ser devidamente tratados, principalmente quando causam rupturas na dinâmica familiar. Desordens do sono podem ser consequência de refluxo gastroesofágico ou de crises convulsivas de difícil controle. De toda forma, o tratamento deve incluir, primeiro, intervenções comportamentais para, só depois, ser introduzido algum tratamento medicamentoso.
Muito frequentemente, o Neurologista ainda assume o que seriam funções de um Pediatra ou de um Clínico Geral.

- Fisiatra

A consulta a um Fisiatra é importante para a elaboração de um programa terapêutico individual para as deficiências motoras e funcionais. Muitas vezes, o Neurologista faz as vezes do Fisiatra, principalmente no que diz respeito ao acompanhamento das terapias.
De toda forma, é recomendável o auxílio de um Fisiatra que norteie o programa de terapias físicas (Fisioterapia e Fonoaudiologia) e ocupacionais (Terapia Ocupacional) e que avalie a necessidade do uso de órteses, cadeiras de rodas e outras adaptações para locomoção, movimento e postura.

- Ortopedista

Na grande maioria dos casos de Síndrome de Rett, é imprescindível o acompanhamento do Ortopedista, principalmente por causa do desenvolvimento da escoliose (ou desvio da coluna), que é bastante comum nessas meninas (cerca de 80% delas desenvolvem escoliose), e que pode se manifestar já por volta dos 9-10 anos de idade, especialmente naquelas que nunca adquiriram marcha. Na maioria dos casos, essas pacientes devem ser submetidas ao tratamento cirúrgico da escoliose. Já está bem definido que o uso de coletes não impede o desenvolvimento da escoliose. (saiba mais).
O desenvolvimento de cifoses também deve ser observado pelo ortopedista.
Também cabe ao ortopedista avaliar e acompanhar deformidades musculoesqueléticas nas mãos e nos pés e contraturas musculares, que são frequentes nessas pacientes.
O acompanhamento da saúde dos ossos é imprescindível, já que é comum essas pacientes desenvolverem quadros de osteopenia (perda importante de cálcio) e/ou osteoporose (perda óssea seguida de porosidade). Esses quadros geralmente decorrem da imobilidade, e podem ser agravados pelo uso de medicações anticonvulsivantes, que podem diminuir a absorção de vitamina D. Nos casos em que esses quadros são identificados, deve-se solicitar densitometria óssea com certa regularidade e observar a ocorrência de fraturas ósseas patológicas.
A prevenção da osteopenia e da osteoporose inclui a ingestão de alimentos ricos em cálcio, mas com orientação médica, já que a quantidade de cálcio ingerida pode piorar o quadro de constipação intestinal.
Mediante perda importante de densidade óssea associada com história de fraturas, recomenda-se consulta com um endocrinologista, para que avalie as condições hormonais da paciente com Síndrome de Rett.

- Gastroenterologista


Uma parte importante das pacientes com Síndrome de Rett apresentam alterações nas funções gastrointestinais, dentre as quais o gastroenterologista deverá avaliar com mais atenção:
A constipação intestinal (ou prisão de ventre), que é extremamente comum nas pacientes com Síndrome de Rett, e cujo tratamento envolve desde alimentação rica em líquidos e fibras, até medicamentos específicos para cada caso. Medicamentos de manipulação, como o polietilenoglicol 4.000, e Minilax têm se mostrado bastante eficazes em muitos casos. A constipação intestinal decorre, em geral, de desordens motoras que tornam o trânsito intestinal mais lento.
O reluxo gastroesofágico (RGE), que decorre possivelmente das dificuldades de coordenação muscular presentes nas pessoas com a Síndrome de Rett, e pode estar associado com esofagite, hérnia diafragmática e retardo no esvaziamento gástrico. Manifestações de RGE incluem irritabilidade, recusa do alimento, e vômitos. O diagnóstico do RGE inclui exames como raios-X constrastados de esôfago, estômago e duodeno, endoscopia digestiva alta, cintilografia e pHmetria. Dependendo da severidade, da evolução e das complicações clínicas do caso, o tratamento clínico pode não ser eficaz, e o tratamento cirúrgico passa a ser obrigatório. As intervenções cirúrgicas incluem a fundoplicatura e, mais frequentemente, a colocação de sonda de gastrostomia.
Aerofagia e distensão abdominal que podem, em alguns casos, ser bastante graves. Diminuir o tempo de duração das refeições e manter a paciente na posição sentada podem ser medidas eficazes. Nos casos mais graves, porém, pode ser necessária a colocação de sonda de gastrostomia.
Desordens na deglutição (ou disfagia) podem resultar em desnutrição (às vezes grave), salivação excessiva (baba), aspiração alimentar (causa comum de pneumonias de repetição) e cáries dentárias. Quando a disfagia é de fato um problema, recomenda-se alimentação pastosa e líquidos engrossados. Novamente, dependendo do grau de comprometimento causado pela disfagia, deve-se pensar na colocação de sonda de gastrostomia.

 
  Síndrome da Disfunção das Eliminações
A falta ou a inadequação de controle dos esfíncteres, seja em decorrência de doenças neurológicas ou pela falta de treinamento adequado, é fator fortemente preditivo de sintomas urinários e intestinais que podem caracterizar a Síndrome da Disfunção das Eliminações, como as infecções urinárias de repetição e a constipação intestinal. O termo Síndrome da Disfunção das Eliminações (SDE) descreve a associação entre disfunção miccional (ou urinária) e disfunção intestinal.
A SDE pode se manifestar da seguinte maneira: Muitas vezes, parece que o intestino funcionou mais ou menos direito, mas, na verdade, ainda ficam restando fezes na saída do intestino. As alterações na movimentação intestinal, comuns nas pessoas com a Síndrome de Rett, é que impedem o esvaziamento completo do intestino. Esse bolo de fezes que permanece funciona como uma espécie de rolha que, por sua vez, colabora para piorar a constipação intestinal. Mesmo alguns medicamentos usados para amolecer as fezes, como o polietilenoglicol, não agem sobre esse bolo fecal que fica parado na saída do intestino. Portanto:
 
 
alterações na movimentação intestinal
+
esvaziamento gástrico lento
+
amolecimento das fezes mais internas
x
Gases
=
MUITA DOR
 

- Nutricionista

O ideal é que a criança com Síndrome de Rett tenha acompanhamento nutricional já desde tenra idade, de modo que se previna, via a alimentação, a piora de desordens musculoesqueléticas (como a osteopenia e a osteoporose) e dos distúrbios gastrintestinais (como a constipação) (saiba mais).
A desnutrição ou o estado nutricional inadequado, frequentes em pacientes com Síndrome de Rett, são representados pelo baixo peso ou pela perda constante de peso, e decorrem da falta de uso funcional das mãos e das desordens de coordenação da mastigação e deglutição, que aumentam o tempo de duração da alimentação que, por sua vez, não assegura a ingesta de alimentos nas quantidades ideias.

- Pneumologista

Cabe ao pneumologista avaliar e acompanhar as pacientes com Síndrome de Rett no que concerne a:
- padrões respiratórios anormais, representados por apneia e episódios de hiperventilação seguida de respiração normal;
- níveis de oxigenação (uma vez que os níveis de saturação de oxigênio podem ser muito baixos em pacientes com a Síndrome de Rett);
- e pneumonias de repetição (geralmente causadas por aspiração alimentar).

- Cardiologista

Consultas ao cardiologista, ainda que menos frequentes na infância, são imprescindíveis para moças e mulheres com a Síndrome de Rett, já que problemas cardíacos não são incomuns nas pessoas mais velhas com a síndrome. Esses problemas incluem pausas anormalmente longas entre os batimentos cardíacos ou arritimias. Portanto, a partir do final da adolescência, é crucial que se realize regularmente o eletrocardiograma, e, em caso de resultados anormais, principalmente na presença da síndrome do QT prolongado, o Cardiologista deve orientar a família as medicações de outras especialidades que devem ser evitadas ou interrompidas.

- Ginecologista

A saúde sexual das pacientes com Síndrome de Rett, que parece ser bastante preservada em face dos demais prejuízos causados pela síndrome, deve ser rigorosamente acompanhada pelo Ginecologista.
Informações sobre o desenvolvimento sexual de moças com Síndrome de Rett ainda são escassas, mas alguns estudos já evidenciaram que a maturidade sexual é alcançada em idades similares à de moças saudáveis.
A puberdade é um processo fisiológico que ocorre normalmente na Síndrome de Rett. Estudos indicam que o aparecimento das chamadas características sexuais secundárias, que incluem o desenvolvimento das mamas e o aparecimento dos pelos púbicos e axilares, podem surgir precocemente na SR. Assim, essas características aparecem na população geral por volta dos 9 anos em média, enquanto na SR podem aparecer já entre os 6 e 7 anos de idade.
Por outro lado, a primeira menstruação acontece por volta dos 12,9 anos na população geral, e por volta dos 13,1 anos nas meninas com a Síndrome de Rett.
Em estudo multicêntrico realizado por pesquisadores do Oregon, ratas experimentais com alterações provocadas no gene MECP2 produziram sinais precoces de maturidade sexual, e se mostraram férteis na mesma idade em que as ratas normais que serviram de controle para o estudo.
Considerando que os períodos menstruais podem ser extremamente difíceis tanto para a paciente (dor e desconforto) quanto para a família (higienização e preocupação), e que essas pacientes podem engravidar e dar a luz de modo bastante normal, cabe ao Ginecologista orientar a família sobre formas de interromper o ciclo menstrual.

- Psiquiatra


Embora raros, alguns distúrbios comportamentais mais intensos podem eventualmente requerer o acompanhamento psiquiátrico da paciente com Síndrome de Rett, ainda que o Neurologista possa dar conta de administrá-los de maneira mais global.
De toda forma, o Psiquiatra pode orientar a família e medicar as pacientes em casos de agitação constante e exacerbada e de comportamentos de autoagressão insistente.
 
 
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