A Importância da febre para a criança
Escrito por Dra. Zélia Beatriz Ligório Fonseca
Febre – ou hipertermia - é o aumento da temperatura do corpo, acima da média considerada normal que varia entre 36°C e 37, 8°C dependendo se a medição for feita no reto, oral ou axilar. Abaixo de 36 graus temos uma hipotermia.
São núcleos localizados no hipotálamo, no nosso cérebro, os responsáveis pela conservação da nossa temperatura corporal através de ajuste entre os mecanismos de geração e conservação de calor de um lado e de dissipação do calor e redução da temperatura corporal de outro.
Fisiologicamente o organismo usa os seguintes mecanismos para aumentar e manter a temperatura:
- Trabalho muscular;
- Tremores;
- Diminuição do calibre dos vasos sanguíneos;
- Preferência pelo calor;
Assim como temos mecanismos para diminuir a temperatura:
- Aumento do calibre dos vasos sanguíneos;
- Preferência pelo frio;
- Sudorese.
Causas
Até mesmo exercícios prolongados podem provocar um aumento da temperatura, também a exposição exagerada ao sol, chamada Insolação ou Intermação. Mas na grande maioria dos casos, nas crianças, as febres são causadas por vírus, ou seja, são uma reação do organismo a agentes estranhos ao nosso corpo, vulgarmente chamados de germes e micróbios.
Então a febre não é uma doença como muitos a tratam, mas o sinal de que o organismo está atuando com suas defesas em favor do todo.
É cientificamente comprovado o fato de que a maioria dos vírus não consegue se multiplicar em temperaturas elevadas e assim o combate sem critérios às febres acaba por estender por longo tempo um estado que só deveria ocorrer por poucos dias. Algumas bactérias também são destruídas por temperaturas mais elevadas.
A febre na visão da medicina ampliada pela antroposofia
O calor é o portador do EU, e o nosso EU só se liga ao corpo físico no decorrer do desenvolvimento.
Quando nascemos temos um corpo que foi plasmado pela mãe e no transcorrer, principalmente dos primeiros sete anos de vida, devemos transformar esse corpo em substância própria, individual. As febres infantis seriam momentos em que o EU tenta penetrar mais intensamente no organismo causando “crises”.
Desse modo poderíamos encarar cada episódio febril como um rejuvenescimento onde o velho corpo herdado seria substituído por um novo mais adequado àquela individualidade.
Sendo um dos primeiros sinais de combate a uma infecção, a natureza produz febre para capacitar o organismo a se fortalecer. Cada êxito que o organismo tem em neutralizar uma bactéria, ou vírus, torna-o mais competente para combater as próximas infecções. Assim quanto mais se impede a ação natural da febre, mais ocorre a probabilidade da criança se reinfectar novamente, situação bastante comum pela constante ação contrária à febre. Por exemplo, com o comum uso de medicamentos para abaixar a febre. Além de que ir contra a febre predispõe o sistema de defesa do organismo (sistema imunológico), a ficar confuso frente às situações comuns facilitando alguns distúrbios. É o caso das alergias que são uma resposta exagerada frente a um estímulo. Ou o freqüente achado clínico de hipotermia em pacientes com câncer.
Quando procurar um médico?
Como dissemos cada estado febril é uma crise e nós passamos por vários momentos de crise durante nosso desenvolvimento físico e espiritual, mas toda crise envolve riscos e o ideal é que ela seja observada com carinho e atenção não permitindo que ultrapasse certos limites que cada ser apresenta.
Na avaliação da criança febril os pais precisam de um mínimo de segurança e tranqüilidade no julgamento de seu estado. Segurança é fruto do conhecimento e da experiência. Quando falta segurança vem o medo que a criança percebe e imita. Sempre que houver insegurança ou dúvida, deve-se procurar o médico de imediato.
Sugestão prática na avaliação da febre
- Lactentes (bebês de peito): em caso de febre sempre procurar o médico;
- Febre maior que 39º, e que dure mais que 72 h;
- Febre que reaparece após um período sem febre de mais de 24 hs;
- Abatimento acentuado e “gemência”, mesmo após controle da temperatura;
- Surgimento de outros sinais: lesões na pele, diarréia, dor de garganta, vômitos contínuos, dor de cabeça, etc..
Como manejar
- A febre tem um caminho natural, indo da cabeça em direção aos pés. Constatando a febre, ponha a mão nos pés. Se estiverem frios significa que ela está caminhando e não completou o seu trajeto. Então, toda criança com febre deve ser agasalhada. Quando se tem um suadouro após uma febre, significa que ela realizou o seu trabalho naquele momento;
- Os banhos são a melhor forma de controlar a temperatura;
- Nunca usar água fria ou álcool, pois podem causar uma queda brusca da temperatura e conseqüentemente hipotermia;
- Banho de imersão nos menores, ou escalda-pés nos maiores, com limão. A água deve estar um pouco abaixo da temperatura da criança (tépida). Cortar e espremer um limão dentro da água (abaixo da linha d’água). Deixar por 10 minutos. Se necessário, repetir.
- Rodelas de limão na sola dos pés. Corta-se o limão em rodelas e coloque uma a uma em fila na sola dos pés subindo até a “batata” da perna. Prender com uma faixa ou meia grossa. OBS.: os pés devem estar aquecidos no uso do limão, se não estiverem, aqueça-os antes friccionando-os;
- Chá de flores de Sabugueiro para estimular a sudorese. Líquidos à vontade para eliminação das toxinas, em forma de sucos de frutas, chás e água;
- Dieta leve sem óleo ou frituras, evitando carnes, ovos, leite, leguminosas, enquanto durar a febre. Respeitar a falta de apetite da criança: se forçar a alimentação provoca-se náuseas e vômitos.
Convulsão febril
Eis um grande fantasma para a maior parte dos pais e responsáveis das crianças.
A convulsão febril ocorre em crianças de 6 meses a 5 anos de idade. Não é a temperatura muito alta quem desencadeia a convulsão, mas a rapidez com que ocorre a variação de temperatura. Quedas bruscas de temperatura também são causa de convulsão como nos banhos de água fria ou com álcool. A convulsão febril apesar de assustadora para os pais, não deixa seqüelas. Muitas vezes é confundida com tremores que na verdade são somente um mecanismo fisiológico de aumentar a temperatura como dito anteriormente.
Prevenção
O natural é que a criança tenha alguns episódios febris durante seu desenvolvimento, mesmo na visão alopática, o que mostraria um desenvolvimento do sistema imunológico.
E na visão antroposófica, esses episódios seriam aproveitados na transformação de um corpo próprio.
Mas podemos atuar preventivamente para que essas crises sejam ultrapassadas tranqüilamente, sem intercorrências, resultando unicamente em benefícios para a criança. E a principal medida é alimentar:
- Uma alimentação correta, sadia para cada fase da vida é a melhor medida preventiva de qualquer doença.
- Preservação do ritmo sono-vigília. Uma criança necessita de pelo menos dez horas de sono para manter-se saudável.
- Uma outra medida preventiva é a manutenção do equilíbrio do nosso corpo calórico, cuidar para que as crianças tenham suas extremidades sempre aquecidas.
Com esses pequenos cuidados, tão simples, damos às crianças a oportunidade de se desenvolverem bem e terem um futuro bem mais saudável.
Bibliografia:
Andreoli, T. E.; Carpenter, C. I.; Plum, F.; Smith, L. H.: Cecil Medicina Interna Básica - 2ª Ed - S.XI-84
Bott, Victo: Medicina Antroposófica uma Ampliação da Arte de Curar-Vol 1.
Burkhard, Gudrun K.: Novos Caminhos de Alimentação - Vol 3
Wolff, O. Husemann, F.: A Imagem do Homem como Base da Arte Médica - Vol 1
Pediatra – Prática Médica Antroposófica
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